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Vanished

Leānder Quadragesimae

Juro que para o meu primeiro texto eu não esperava parecer tanto com a 2ª geração do Romantismo, de coração. Confesso que “Mal do século” não foi o estágio dessa corrente que mais me animou durante os três – infindáveis – anos do ensino médio. Todavia, na última semana peguei-me pensando: “banheiro para lavar, três litros de água para beber, amigos que deixei sem resposta no WhatsApp, leituras para finalizar, coluna doendo, família… e se eu sumisse? Ou abandonasse tudo? Esse é o meu fim? Já que estamos à deriva, sem vacina e sem felicidade, E SE eu saísse andando, talvez pelado, sem rumo na Via Expressa? (aqui faço referência a uma típica expressão da minha amiga Victória Farias, mas essa personagem eu apresento em outro momento).

Imagino que esteja difícil para todo mundo (bom, pelo menos é o que eu escuto desde abril de 2020), mas às vezes bate uma sensação de que o mundo está diariamente acabando só para mim. Partindo desse raciocínio e vibrando desta energia Lorde Byron, às 23h10 encaminhei algumas mensagens confortantes para um amigo. Nestas mensagens, no chat do Instagram (que convenhamos, é extremamente brochante), resolvi de ímpeto dar algum consolo para ele – e talvez para mim mesmo. Porém, preciso dizer que: antes de enviar as mensagens, mergulhado nas leituras que estou realizando para um estudo sobre o governo Obama (8 longos anos de crise, eu diria), encontrei um trecho extremamente curioso do ex-presidente estadunidense:

“Sei que foi mais ou menos nessa época que comecei a ter um sonho recorrente. Estou nas ruas de uma cidade não identificada, um bairro arborizado, com lojas pequenas, pouco trânsito. O dia é agradável e quente, com uma brisa suave, e há gente fazendo compras ou passeando com o cachorro, ou voltando do trabalho para casa. Numa versão ando de bicicleta, mas quase sempre estou a pé e caminho a esmo, sem pensar em nada especial, quando de repente percebo que ninguém me reconhece. Meus seguranças desapareceram. Não preciso ir a lugar nenhum. Minhas decisões não têm consequências. Vou até a loja de esquina e compro uma garrafa de água ou de chá gelado, converso um pouco com a pessoa atrás do balcão. Me sento num banco, abro a tampa da bebida, tomo um gole e fico vendo o mundo passar. Eu me sinto como se tivesse ganhado na loteria”.

E foi com este fragmento que resumi tudo o que eu pretendia dizer naquela véspera de sexta-feira 13. Apesar de não ter sido o chefe do poder executivo de uma das maiores economias do mundo; apesar de não ter enfrentado os republicanos boicotando todas as minhas propostas para tirar os E.U.A da crise de 2008; apesar de não ter alocado tropas estadunidenses para o Afeganistão (enquanto um ano antes construíra um discurso quase “anti guerra”); e apesar de não ter falhado com uma proposta de sistema de saúde público, me permiti finalizar aquela noite – mesmo que dentro do meu coração – como Barack: vendo o mundo passar, assistindo o sono chegar e a sexta-feira também. De certa maneira, houve conforto em perceber que a vida pareceu acabar outras vezes, e para outras pessoas também.

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