Tais Civitarese
Em Torino, no museu egípcio, vi múmias de gato. Múmias de pássaro, de cão, de cobra e de outros bichos. Elas são feitas dos seres que morrem e são embalsamados, tratados para viverem eternamente em outro plano.
Olhando as múmias, elas me parecem secas. Definitivamente mortas. Não há sinal algum de vida ali, apenas sinais do passado.
Tem coisas em mim que eu queria que se tornassem mumias. Que secassem completamente. Queria embalsamá-las em linho para fazer jus ao que vieram me ensinar e para não negá-las . Queria retirar as vísceras que mantém os seus mesmos padrões de funcionamento. Queria encerrá-las em cestos de palha ou em sarcófagos simples, não precisam ser pintados ou entalhados na pedra. Queria deixá-las secar ao tempo. Olhar para elas como miragem, como sombras de um antigo ser vivente. Queria que se tornassem objetos inertes, amarronzados, usados para decoração, curiosidade, explicação ou ensino.
Queria que essas minhas partes amputadas se transformassem. Não me importo de exibi-las em redomas de vidro, contanto que estejam assim, mortas. Que na emergência do frio, tão desidratadas fossem, pudessem até servir como lenha ou palha para o fogo. Que jamais voltem à vida neste plano, ainda que conservem uma débil forma reflexa do que um dia foram.
As máscaras mortuárias farão jus a elas. E dentro, o couro seco não abrigará mais nenhum pulso.