Antes de tudo, é necessário constantemente se auto convencer de qual realidade estamos vivendo. Na nossa, ou na deliberadamente inventada por alguém? São tantas acontecendo ao mesmo tempo que eu mesma, caro leitor, me pego vez ou outra invadindo o imaginário de outrem, pensando que esse é o meu caminho de volta para casa.
Isso tem acontecido com mais frequência do que o meu fraco consciente tem aguentado suportar. Essa semana, em um ato de desespero, me vi perdida em uma realidade bonita, mas infelizmente mentirosa, naquilo que não aconteceu. O ipso facto, usado por alguns para legitimar os teatros mentais, foi totalmente diferente do que apregoou alguns que eu colocava em um patamar elevado de sensatez.
Ainda assim, mesmo sabendo do que realmente aconteceu, e mesmo experimentando um novo desejo de dizer “nada além da verdade”, por um momento eu duvidei. Não de mim, isso seria muito deprimente, mas daqueles que um dia eu admirei. Duvidei pela permissividade; duvidei pelo discurso e por perceber que a cada dia mais, a cada coisa que fingimos não ver e a cada vez que piscamos no momento errado, nos tornamos exatamente aquilo que juramos lutar contra.
Mas não para a minha surpresa, o mundo continuou a rodar. Na indiferença das minhas noites sem sono e no meu mal-estar com a civilização, parafraseando Bauman, consegui consolo na existência de amigos, e, no final das contas, isso é tudo que importa. Ser defendido e defender aquilo que se ama, porque quando as luzes se apagam e eles ganham, o único aconchego que nos resta é o que a gente se dá.
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