Trem

Tais Civitarese

Existe um tipo de trem em que a gente entra de carro, passa por um túnel escuro e sai em um outro país. Geralmente, ele serve para atravessar montanhas, cujo contorno na forma de uma estrada seria impossível.

Tenho a sensação de que entrei em um trem assim faz dois anos e penso que ainda estou dentro do túnel. Espero que, quando chegar ao meu destino, haja um respiro. Faz dois anos que a coisa está meio confusa, meio complicada, meio bizarra.

Estou esperando esse dia chegar fazendo meus planos aqui no escuro. Farei isso, farei aquilo… Esperarei pacientemente a luz no final, contanto que chegue. Quando chegar e essas paredes de concreto se dissiparem, poderei ver um horizonte novo.

O trem dá umas sacudidas e vamos seguindo. No túnel há holofotes, mas são esparsos. Estou quietinha dentro do carro, que parece uma bolha, onde não há muito o que fazer. Somente esperar e pensar. Posso pensar em coisas boas ou ruins. Escolho. Não tenho problema em esperar. Mas só faz sentido estar neste carro, dentro deste trem, atravessando este túnel se sei que ele me levará para um outro lugar.

O túnel não é um lugar. É um limbo. Uma fronteira incerta que não se sabe exatamente a quem pertence. Não tem população ou habitantes. É só um túnel. E é bem escuro. Há um carro à frente e outro atrás. Todos esperando. Todos sacolejando, desligados, de faróis acesos. Não há nenhuma saída estratégica. Só o trem é capaz de nos conduzir ao exterior.

O trem está em movimento. Tenho certeza que, em breve, chegaremos.

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