A medicina é uma das mais belas formas de arte que existem. Nem a chamo de ciência, porque ela não opera apenas pela lógica da razão. Ela passa por alguns caminhos insondáveis até que se chegue o momento de convocá-los em prol do cuidar.
Quando um tratamento é bem realizado e promove a melhora ou a cura, o gosto que isso traz é imenso. E algo que nos devolve a fé na vida, que traz paz e compensa qualquer esforço ou desgaste do processo. É verdadeiramente uma obra de arte.
Algo que sempre me encucou intimamente foi a opção de colegas por especialidades que lidam com
pacientes em estados de gravidade extrema, quando a chance de melhora ou cura é pequena. Pensava na carga de sofrimento que lidar cotidianamente com situações desse tipo deveria trazer.
Perder um paciente é muito doloroso. É uma dor estranha e abrangente, que envolve o médico em um tipo de luto muito particular. Até hoje me lembro daqueles que mais marcaram minha formação e residência. Lembro de seus rostos, dos seus nomes e dos nomes de seus familiares e mães.
Por que então alguém optaria por enfrentar tais situações no dia-a-dia? Por que escolher oncologia, hematologia ou mesmo medicina intensiva? Sempre pensei assim sem confessar a ninguém e segui com essa dúvida pensando se a compensação de tais escolhas superaria as dores que elas podem trazer.
Esta semana, tive um aprendizado que trouxe luz a essa minha questão.
Ao acompanhar um colega, vi quando ele informava uma família sobre a impossibilidade de cura de um paciente do qual tratava. Diante de toda a dor envolvida, ele falou tal notícia com atenção e carinho. Com profundo respeito. Amparou as dúvidas de todos, ouviu com paciência os seus clamores e respondeu prontamente aos questionamentos. Fiquei observando isso e concluí que ali também estava parte do tratamento. Nesse apoio, havia cura, havia bálsamo. Em ouvir, respeitar, acolher e amparar a dor, a medicina também se faz. Entendi o grande paradoxo de que viver ou morrer nem sempre é o mais importante. Por mais que lutemos essencialmente para preservar a vida, o processo, o vínculo e a caminhada também são medicina. Isso não pode ser esquecido.
Nessas horas, me lembro de que realmente
não há nada mais belo no mundo pra mim.
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