Fazia mais de um mês que o reino de Brasilândia estava sem Rei. Os súditos já haviam enfrentado problema parecido tempos atrás com o Ministério da Magia, um dos mais importantes do Governo. Acontece que o Ministro, que de magia nada sabia, caiu antes mesmo de aprender o truque de desaparecer nas sombras. Ouvi dizer que ele havia conseguido entrar ilegalmente no reino de Maratris, usando um papel holográfico e documentos falsos. Temia ser preso por estelionato mágico e ofensa a Grande Sociedade. Não tínhamos muito o que esperar dele.
Mas, sobre o Rei, a quem diga que não foi uma grande surpresa quando ele, temendo por sua vida, se trancou na torre mais alta do seu Palácio de Vidro. O líder intransigente, que entrava para história de Brasilândia como mais um complacente com a histeria alheia, não estava exatamente escondido. Como as paredes do seu castelo eram transparentes, todos podiam ver o que se passava naqueles corredores. As reuniões de família; os conhecidos que entravam traiçoeiramente para bolar planos mirabolantes contra… Bom, ninguém sabe dizer exatamente contra quem esses planos eram.
Brasilândia, até este século, não possuía inimigos. Pelo menos não aqueles que necessitavam, para serem combatidos, que o Ministro da Guerra, o Ministro da Justiça, e o Ministro da Segurança Pública se reunissem sorrateiramente na calada da noite, em volta de uma mesa plana, folheando papéis em que se podia ler “confidencial” nas capas.
Outro dia, sem aviso prévio, o Rei Louco, como havia sido carinhosamente apelidado pelos súditos menos afáveis, recebeu em seu Palácio de Vidro uma comitiva com todos os Ministros, trajando roupas de gala, como se tivessem sido convocados para um baile de despedida. Todos em Brasilândia se reuniram em volta do castelo para assistir à reunião daqueles que achavam que estavam invisíveis. As suas vozes ecoavam pelas vielas daquela cidade apertada e murada.
Em meio aos passos de dança descompassados, um estrondo. Dizem que quem lançou a primeira pedra foi um revoltoso, tentando implantar o caos. Outros dizem que o pedregulho fora lançado por um súdito fiel que queria avisar ao Rei que todos viam o que acontecia.
De onde veio não faz diferença, a questão é que a brita quase imaculada atingiu ao Rei em cheio, bem no ombro esquerdo. O caos pretendido foi alcançado. Gente gritando, espadas sendo levantadas, bandeiras sendo rasgadas, lampejos de guerra sendo bradados. No final, ninguém venceu. O Rei, que foi jurado de vida pelos seus seguidores, nunca mais foi visto em público. Vez ou outra seus amantes se reúnem em volta do seu castelo para admirá-lo dando ordens parecendo um leão comandando uma ninhada; outras, apenas para contemplar a sua inanição.
O súdito, que tinha realmente lançado a pedra para avisar ao Rei que todos assistiam ao seu espetáculo quase shakespeariano, aprendeu, com tristeza, a sua lição. O seu messias, no final das contas, não tinha vocação para mártir.
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