Quando se passa dos cinquenta anos, a vivência nos leva a refletir sempre mais e falar cada vez menos. E o pouco que falar é preciso fazê-lo com sabedoria, que é o mínimo que podemos acumular com mais de cinco décadas de vida. Neste final de semana, ouvi alguém dizer que quando fez cinquenta anos percebeu que havia vivido mais tempo do que ainda tinha para viver e que sabia que a partir dali tudo que fizesse precisava ser feito melhor. É o tempo da razão e da maturidade.
Até chegar lá, os valores e a compreensão do mundo e da vida vão mudando. A ânsia por resultados imediatos vai cedendo espaço para a paciência, enquanto a tolerância substitui a exigência. Os pré-julgamentos vão desaparecendo diante da cautela e o conhecimento nos aparece cada dia mais limitado. Os grandes conflitos de anos atrás se moldam na ‘pequinês’ de suas dimensões, no mesmo tempo que os devaneios de ira não superam mais os períodos de paz.
A vida realmente é muito simples; nós é que a complicamos. Buscamos, muitas vezes, o inatingível, o utópico e, pior, o dispensável, sempre na busca de uma felicidade nem sempre bem sonhada. Aí, galopamos pela vida numa correria desenfreada que não nos deixa observar detalhes simples, mas significativos para o bem viver. Vivemos censurando a tudo e a todos, custando a perceber que está na compreensão, na aceitação das diferenças e no equilíbrio das reações, a chave da sabedoria para se viver melhor. Mais ainda, chega com muito atraso para a maioria a capacidade de percepção de que são nas pequenas coisas que encontramos o sentido da vida e da felicidade.
Duas bursites nos ombros em menos de dois anos me provocaram dores por um considerável tempo, mas foram esquecidas depois de microcirurgia e tratamento fisioterápico de excelentes resultados. Praticamente todos os movimentos foram recuperados, durmo em qualquer posição sem o incômodo da dor, digito meus textos horas a fio e movimento os braços nas tarefas cotidianas sem reclamar. Retomei a normalidade de todos os movimentos, exceto um: não consigo mais atirar pedras. E quando tento fazê-lo, a dor é insuportável.
E que falta poderia fazer a um homem de cinquenta anos a capacidade de atirar pedras? Nenhuma, poderia se pensar, até porque essa é a idade da paz, da contra agressão e do combate à violência. Mas as lembranças do passado testemunham a importância do movimento. Só não valoriza a capacidade de atirar pedras quem nunca teve a oportunidade de fazê-lo sobre as águas. Porque duvido que haja no mundo alguém que se conteve diante da cortina inerte de uma água cristalina sem que a resposta da vida lhe fosse dada com ondas provocadas pelo atrito e peso da pedra. Uma sequência de círculos crescendo a partir do ponto de atrito, formando um balé de ondas cujas vibrações vão diminuindo até a água retomar sua inércia provocativa, esperando que lhe atirem outra pedra. E a cena se repetindo inúmeras vezes.
Acredito no efeito de jogar pedra n’água, até porque esta brincadeira cresceu de importância a partir do momento em que me senti impedido de fazê-la. Assim como jogar pedra em água, existem milhares de outras pequenas coisas muito boas na vida e para as quais não damos tanta importância. Pelo menos até o dia em que a perdemos.
É valorizando as pequenas coisas que certamente encontramos a grandeza da vida. São muitas as pessoas em perfeitas condições físicas que vivem reclamando, lamentando aos quatro cantos e se julgando a criatura mais infeliz do planeta. São pessoas que já acordam de mau humor, no lugar do sol só enxergam trevas, incapazes de um ato de solidariedade e, muito menos, de fraternidade.
E ainda pior, não percebem que, ao seu lado, caminham sem lamentação milhares de portadores de deficiências físicas, mentais ou sociais, todos muito mais felizes. Desejar ao próximo um ótimo dia, pode não ter valor hoje para muita gente, mas, certamente, o terá no dia em que faltar a fala.
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