Vinha fugindo há muito tempo do sertão. Anos, talvez.
Sempre o temi e pensava que ainda não era a hora.
Eu já conhecia a história. Ou pensava conhecer… Já tinha lido bastante sobre a narrativa, mas jamais o livro em si.
Num aniversário, presenteei meu marido com essa obra. Ela ficou ali, com sua capa vermelha, pousada na prateleira do quarto me olhando diariamente. Eu fingia que não via. O exemplar nem era meu!
Passaram-se mais alguns aniversários, até que finalmente me rendi. Um amigo querido me fez lembrar do livro. Falou dele com encanto. E foi aí que, impelida por curiosidade e coragem, corri para as suas páginas.
Não foi fácil. Ele parece ser escrito em um outro idioma. Demorei um certo tempo para engatar. Quando decifrei o enigma da língua, se interpôs para mim o enredo. Mais enigmático ainda. Cheio de analogias e paralelos. Ler o sertão uma vez é apenas pincelá-lo com a película dos olhos. Ele é feito de muitas e muitas camadas. Merece uma arqueologia. Ele é meio que a história do mundo e do átomo. A história de todos nós. Ao final, chorei igual besta. Mas não foi de tristeza. Foi de emoção, misturada à grande consciência de estar viva. Foi de choque, de cansaço, de digestão.
Ainda estou processando suas mensagens. Precisarei recorrer a ele de novo, algum dia. Esse livro me fez reconectar de uma maneira muito forte com meu país, com nosso povo, com seus percursos. Me fez lembrar da guerra do tráfico, me falou sobre honra, lealdade e coragem. Ao mesmo tempo em que me atentou para os sentimentos mais puros e as coisas muito simples.
As férias de verão mal começaram e já fiz uma das mais importantes viagens da minha vida.
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