Categories: Sem categoria

Díptero da família dos culicídeos

Márcio Magno Passos

Com a chegada do verão, aparecem com mais frequência, convites para passar alguns dias na praia. Invariavelmente, a primeira pergunta que faço é a seguinte:

Lá tem muitos pernilongos?

E quase sempre as respostas são as mesmas: tem muito não, só aparecem no final da tarde, as janelas da casa têm telinha, ou, tem pernilongo igual a todas as praias. Prefiro agradecer o convite e não aceitar a viagem. É que eu tenho absoluta incompatibilidade de gênio com pernilongos, muriçocas e outros insetos picantes. E o problema não se resume somente às raras escapadas ao litoral, se bem que lá o assédio é bem maior. Sou perseguido, implacavelmente, por insetos em sítios, fazendas, ranchos, lagoas e, pasmem, até nos centros urbanos e grandes cidades ou capitais. 

Costumo dizer e isto reflete a dura realidade, sem exagero, que se apenas um pernilongo estiver no Mineirão em dia de clássico entre Cruzeiro e Atlético, ele me acha. O pernilongo sempre me deixa uma tumefação cutânea (calombo) de mais de um centímetro de diâmetro como sua marca registrada. Aí, é coceira para mais de meio metro de tempo, álcool para desinfetar e muito palavrão. 

Esta minha dramática convivência com pernilongos e muriçocas se transformou numa guerra que já dura décadas, tendo de um lado os avanços tecnológicos no combate caseiro aos insetos e, de outro, a capacidade cada vez maior de resistência e imunização deles. A primeira arma que utilizei nesta guerra foi o mosqueteiro, uma rede de filó dependurada sob o teto e cobrindo todo o leito, criando um ambiente de lembranças medievais e palacianas. Chique para uns e brega para outros, o filó não se mostrou eficiente. No meio da noite era perna para um lado e filó para outro, com pernilongo tomando conta.

Depois passei a utilizar aquele famoso “boa-noite”, produto em espiral e que vai queimando lentamente. O problema era conseguir separar – sem quebrar – os espirais. Quando assimilei a técnica, os insetos já estavam imunizados contra a droga. Mais adiante, tentei pires com vinagre sobre o criado, cascas de limão em xícara com álcool, fedorentos e melosos repelentes, cravo da índia no azeite, água com gasolina em saco plástico, som alto com música do Tiririca, e até simpatia para afastar pernilongo. Tudo balela! Tentei todas e nada.

De uns tempos pra cá estou em vantagem. Primeiro, colocaram no mercado um protetor elétrico com extrato de piretro, pastilhas de cor azul para se trocar diariamente. Mais recentemente, colocaram à venda o maior avanço tecnológico das últimas décadas no combate aos pernilongos. É o mesmo produto com extrato de piretro, porém em versão líquida e com durabilidade para 45 noites. Que maravilha! Não há pernilongo que resista…

Pelo menos não havia. Acordei hoje pela manhã com três calombos em cada perna e outro ao lado do umbigo. E, pousado sobre o meu glorioso protetor elétrico, lá estava um garboso díptero da família dos culicídeos, de porte pequeno e pernas muito longas. Era o danado do pernilongo, já devidamente imunizado.

*
Curta: Facebook / Instagram
Blogueiro

Share
Published by
Blogueiro

Recent Posts

Feliz Natal

Mário Sérgio Todos os preparativos, naquele sábado, pareciam exigir mais concentração de esforço. Afinal, havia…

15 horas ago

Natal? Gosto não!

Rosangela Maluf Gostei sim, quando era ainda criança e a magia das festas natalinas me…

22 horas ago

Natal com Gil Brother

Tadeu Duarte tadeu.ufmg@gmail.com Com a proximidade do Natal e festas de fim de ano, já…

2 dias ago

Cores II

Peter Rossi Me pego, por curiosidade pura, pensando como as cores influenciam a nossa vida.…

2 dias ago

Corrida contra o tempo em Luxemburgo

Wander Aguiar Finalizando minha aventura pelo Caminho de Santiago, decidi parar em Luxemburgo antes de…

3 dias ago

Assumir

Como é bom ir se transformando na gente. Assumir a própria esquisitice. Sair do armário…

3 dias ago