“Graça, tudo que é dado e recebido com um sorriso.”
Adriana Falcão
Há 2 semanas a senhora Regina Maria Bahia da Fonseca Silva foi homenageada pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, recebendo a Medalha Desembargador Hélio Costa, pelos grandes serviços prestados ao Fórum da comarca de Congonhas. Por uma felicidade do destino, esse ser humano maravilhoso é a minha mãe.
Vou começar pela graça, pois quem a conhece sabe, que ela sempre mostra os dentes e esbanja um astral luminoso por onde passa. Eu sempre a acompanhei em suas empreitadas artísticas, no teatro, no carnaval e nos vários eventos culturais da cidade dos profetas. Mas também estive muito presente no ambiente jurídico, chegando do colégio e aguardando o fim do seu expediente, para irmos para casa.
Como boa amante de histórias e suas simbologias, resgato um pouco da figura conhecida da justiça, para fortalecer algumas ideias. A deusa grega Themis, carrega a balança e a espada, simbolizando o equilíbrio e o poder. O equilíbrio entre essas duas potências é fundamental, pois sem a balança a espada em riste é expressão da violência. Em contrapartida, a balança sem a espada revela-se impotente. Os olhos vendados surgem depois, com os alemães, no séc. XVI. Gostaria também de reforçar a importância de Themis para reunir as pessoas e sua forte inteligência intuitiva, que a levou a ocupar o importante Oráculo de Delfos.
Retornando à homenageada Regina Bahia, percebo o quanto ela colaborou para o exercício da justiça na cidade e com um elemento fundamental, a ética amorosa. Trago aqui a perspectiva do amor, não como uma abstração, mas como uma prática diária. Observando o trabalho de minha mãe, percebia amor em tudo. No trato com as pessoas, independente de quem fosse, na lida com os arquivos e as plaquinhas do patrimônio público. Ela cuidava de tudo, como cuidava da nossa casa. Conselheira sempre atenta, muitas pessoas a procuravam para resolver pepinos, desabafar ou simplesmente adoçar um pouco o dia. Acho que, com sua inteligência intuitiva herdada de Themis, ouvia mais do que dizia, mas sempre buscava apresentar uma solução aos aflitos.
Para além da sua lida harmoniosa com tudo e todos, me orgulho do seu olhar crítico para os abusos de poder, para as situações de injustiça e favorecimento que testemunhava. Para a minha criança aquilo era um contra exemplo escancarado. Minha mãe batalhou por coisas “pequenas” que transformaram a qualidade de vida das pessoas do entorno. Não me esqueço da sua luta para conseguir que houvesse sal, grão de feijão e água quente para o banho, das pessoas detentas da cidade. Se empenhou também em conseguir um banheiro no andar debaixo do Fórum e se dedicou bastante à construção do Juizado Especial. Mais do que uma servidora pública, minha mãe foi uma trabalhadora da dignidade humana.
Refletindo sobre essa casa de poder, me lembro das palavras de Rubem Alves, quando ele diz que mais poderoso que o amor ao poder, é o poder do amor. E acho que essa imagem representa muito bem a atuação da senhora Regina e sua sábia estratégia, de trabalhar muitos anos num lugar infelizmente extremamente rígido, por vezes corrupto, sem perder sua alegria, seu poder de ação transformadora e sua crença na justiça.
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