Não existe razão para pânico. Nenhum motivo para a incorrência ao desespero. Não há gente gritando nas janelas, nenhum sinal de fumaça no horizonte. Nenhuma paixão queima mais em lugar nenhum. A calmaria é a única saída possível. A apreciação do café preto durante a manhã é uma monotonia aguardada. Pede-se pela calma. O desânimo é mais um efeito colateral da consciência dos acontecimentos, assim como a dor de cabeça é do álcool.
Não se sente o vento forte demais; ninguém liga ao ser empurrado nos ônibus. Se deixar levar sem se justificar os atos é quase uma dança com o destino, na qual estamos sempre fora do ritmo. As conversas são triviais, e os assuntos, os mesmos. Ninguém sai do roteiro do esperado. Todos os lampejos de transgressão são inundados por expectativas. Sabe-se a previsão do dólar da próxima semana, o elemento surpresa não mais nos é permitido. Sair sem carregar uma sombrinha por Belo Horizonte nos próximos dias é quase um ato de rebeldia.
Os tragos são automáticos, sabe-se onde está tudo. As mãos tateiam no escuro o lugar onde os óculos repousam. Não há porque temer que eles não estejam lá. A poeira está exatamente onde estava na semana anterior. As novidades são as mesmas. Todas as cortinas de fumaça parecem ter a mesma cor. Os apelos são iguais. Todo mundo parece ter recebido um roteiro de como se portar, mas acabou por desistir do personagem quando percebeu que não faria diferença.
Meu eu de 2021 entra na semana do Natal exatamente como o meu eu de 2020. Por não saber o que esperar, não espera nada; por não saber o que fazer, não faz nada; por não saber pelo que lutar, não escolhe lados. Trapaceia consigo mesmo, finge de morto, se saboreia na obliviação. Se meu eu de 2021 pudesse falar alguma coisa para o meu eu de 2020, provavelmente desperdiçaria a oportunidade olhando bem nos olhos do inimigo e tentando adivinhar as estratégias de guerra para se sobreviver ao amanhã, in crastinum.
Pintura: Anne Magill – A sense of you – 2018
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