Daniela Piroli Cabral
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Na última segunda-feira, dia 13, eu fiz aniversário. Comemorei assoprando uma vela de 40 anos num bolo de chocolate com morango. Lógico, o ritual incluiu o pedido de realização de um desejo e uma enorme gratidão por ter chegado aqui até aqui relativamente intacta. Nenhum osso quebrado, nenhum dente arrancado. Alguns cabelos brancos, muitos tropeços, o coração por vezes partido e a pandemia no meio. Fazer aniversário depois da pandemia tem outro valor.
No trabalho, meus amigos me ofereceram uma festa com direito a um delicioso bolo de coco com abacaxi. Comemorei com eles a minha entrada nos “enta”, segundo muitos é um buraco negro do qual nunca mais vou conseguir sair. Mas eu desconfio, minha família é de longevos centenários, minha bisa faleceu lúcida aos 103. Taí uma representante da espécie que suplantou a profecia. Espero estar nesta trilha ancestral.
Em casa, foi o meu dia do “sim”. No dia do meu aniversário, minha filha só pode dizer sim para mim. E a púbere perversa polimorfa (essa foi para os entendedores) me presenteou com um “bolo vulcânico”, com recheio de chocolate que explodia quando partimos a primeira fatia. Diversão pura por aqui, valeu a devastação que o furacão fez na minha cozinha.
Deu para perceber que além de muito carinho, também vou ganhar alguns quilos a mais. Mas queria aproveitar o ensejo para contar uma história verídica que aconteceu comigo. Alguns amigos já riram dela, mas eu preciso contar que me divorciei por causa de um bolo de aniversário. Sim, um bolo de aniversário mal recebido pelo ex. Um bolo de aniversário preparado com carinho e oferecido com intenção, que foi sumariamente rejeitado. Talvez por ser avesso a comemorações, talvez pelo incidioso hábito de reclamar, não sei. A verdade que a má recepção daquilo que era a representação do melhor de mim para ele escancarou a ferida aberta da relação. Obviamente não me separei “só” pelo bolo, mas foi a gota d´água que faltava para fazer transbordar o copo cheio de um casamento que agonizava silencioso.
Brincadeiras e reflexões à parte, os quarenta anos nos trazem a verdade dos cabelos brancos. Quarenta anos me foram suficientes para aprender a rejeitar o mal que vem travestido de bondade. Quarenta anos me reafirmam cotidianamente a certeza das mudanças e da morte. Todos os fechamentos são dolorosos. Quarenta anos me deram sabedoria e leveza para entender que erros não existem. Quarenta anos me foram suficientes para aprender a habilidade de perdoar e a escolher as brigas que merecem ser compradas. Mais vale o “como” e não o “o quê”. Quarenta anos me são suficientes para não me fixar à concretude dos objetos, mas em seus simbolismos e nos rituais.
Não posso contar meu desejo quando soprei a vela, dizem por aí que é mau presságio. Mas posso dizer que espero que os meus próximos 40 anos tenham sabor de cheesecake de frutas vermelhas.