Às crianças que nunca esperaram pelos seus pais, talvez esse texto não seja para vocês. Eu esperei, por vezes. Escrever esse texto é tirar de algum lugar da minha memória, algumas situações sensíveis – que às vezes parecem nunca terminarem. Não sei qual exemplo de pai você teve, ou quais foram suas relações com a ideia da paternidade, mas para mim sempre foi muito distorcida.
Uma vez, muito pequeno, em uma sexta-feira (eu acho), lembro da minha mãe me arrumar, porque naquela noite meu pai me levaria para comer no Habib’s. Nós morávamos perto de uma unidade Drive Thru que dentre todas as deliciosas esfihas, ainda possuía um playground (com um barco, piscina de bolinha e cama elástica). Naquele dia, criei altas expectativas, como qualquer criança de 10, 9 anos criaria.
Acho que ele deveria ter me buscado às 19H, mas adormeci às 22H esperando sua chegada. Vagamente, lembro-me da tentativa frustrada quase 00:00 (bêbado), dele tentando convencer minha mãe de que seria uma boa ideia irmos ao famoso gênio da lâmpada. De alguma forma, naquele momento, eu tinha no meu coração que às vezes isso acontece e que quando eu crescesse as coisas seriam diferentes. Afinal, é assim que age um pai é, certo?!
Depois de 10 anos, percebi que meu cansaço sobre uma relação completamente vazia com meu pai, está relacionado com a interminável espera. De ser visto, respeitado. Mas, apesar dos pesares, não queria que esse texto fosse uma grande lamentação, mas de certa reflexão sobre como os homens estão, por séculos, décadas, milênios, compreendendo a paternidade. Me incomoda, profundamente pensar que não só como eu, milhares de filhos assumiram um lugar que não era de direito, ou como dezenas de mulheres são sobrecarregadas por isso.
Como podem pensar que por meses de ausência, e em alguns casos, ANOS, serão pagos com um relógio? Um Smartphone? Um churrasco? Ou serão minimamente compensados com conversas vagas no Whatsapp? Ou como podem pensar ao ver os filhos anunciando sua profunda chateação que eles não possuem razão? Afinal, existem milhares de razões sobre a vida difícil que levam, que justificam a desídia, né?! Talvez esse comportamento seja o sumo de tudo que já se discute sobre patriarcado, mas eu não sabia disso. Eu só queria ter ido ao Habib’s.
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Maravilhoso texto!