A foto do álbum dos meus 15 anos, que me caiu no colo agora, dois meses antes do meu aniversário de 48, me trouxe um monte de lembranças. O nariz arrebitado e o olhar de Capitu trazem à tona uma menina que eu me esqueci de ter sido. Será que fui? Quanto será que a gente fantasia das próprias memórias? Quanto será que a gente sonha o passado do mesmo jeitinho que sonha o futuro? E onde é que fica o presente, esmagado entre esse passado romanceado e um futuro sempre incerto?
A menina do nariz arrebitado não existe mais. A mulher com quem me lembro de ela ter sonhado também não existe. Nunca existiu. Mas a menina sonhou muito com essa mulher, que que saía por mil estradas, dirigindo um carro conversível, com o cabelo ao vento e o violão no banco do carona. Talvez houvesse espaço para um filho loirinho, chamado Gabriel, segurando esse violão no banco do carona.
Não sei dizer como era o presente daquela menina. Sei dela nas minhas memórias. Não sei se havia presente ou apenas um monte de futuro enganchado num tanto de passado (sim, a gente já tem passado aos 15!). E a verdade é que do presente de hoje também ainda sei pouco. Logo que acordo, me sento por 15 minutos para entender que a única que coisa que de fato existe é o aqui e o agora. Penso no ontem, no amanhã… mas gentilmente me convido a voltar para este momento. Este. Agora mesmo. Aqui, diante do computador, escrevendo para você que, por algum motivo, parou para ler o que eu tenho a dizer. Não agora. Em outro momento. O seu momento. O seu agora.
Lidar com o hoje é um exercício. Não sei quanto a você, mas para mim talvez seja um dos mais difíceis que me propus a fazer. Entender que os personagens que criei para o meu futuro são apenas personagens, e que a menina de nariz arrebitado e olhos de Capitu também não é mais do que isso, não é uma tarefa simples. Requer um desapego ao qual não estou acostumada. A gente dá solidez às histórias que cria.
Nos raros momentos em que consigo olhar para tudo isso e achar uma certa graça, no entanto, fica fácil perceber que estar no presente é muito mais confortável. Fica fácil entender que o sofrimento no presente, de modo geral, é menor porque ele é aquilo com que conseguimos lidar. De um jeito ou de outro.
A menina da foto não existe mais. É bonitinha e tem um olhar de Capitu. Mas também pode ser que tudo não passasse de uma pose para o fotógrafo. Era 1988. Hoje é 2021. Estou aqui, diante deste computador, falando sobre estar presente. E você está aí, lendo este texto e talvez pensando no passado. Ou no futuro. Ou talvez concordando comigo que a única coisa que temos hoje é este momento que estamos vivendo exatamente agora. E que pode ser profundamente tranquilizador entender isso.
Se você, que me lê precisamente agora, tem o desejo de estar um pouco mais presente, eu tenho um convite a lhe fazer: todas as quintas-feiras, às 19h, facilito um grupo de meditação que se reúne online para focar no presente e estudar o livro Autocompaixão – Pare de se torturar e deixe a insegurança para trás, de Kristin Neff. Se isso te interessou, mande uma mensagem de texto pelo whatsapp: +55.31.98395.5144.
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