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Trincheiras comerciais

Tais Civitarese

O banco quer me ligar, mas eu não sou obrigada a falar com ele.

O banco é a epítome do sistema. Recusar sua ligação é minha rebeldia vespertina.

O interesse, obviamente, é deles. O tempo e os ouvidos, no entanto, são meus. Não lhes devo absolutamente nada. Abstenho-me até da educação diante desta máquina mortífera. Não irei atender. Não tenho nada a conversar.

Algo precisa mudar em relação ao cliente que quer encerrar sua conta. O preço disso é se aborrecer? Sofrer uma tentativa ininterrupta de lavagem cerebral por vinte minutos consecutivos? Minha paciência não está na promoção. Cada vez mais escassa, recuso-me a gastá-la com vocês.

Uma vez, para sair da TIM, foram precisos 41 minutos ao telefone. Quarenta e um minutos e muitas explicações. Quarenta e um minutos para exercer o direito de gastar o meu dinheiro como bem entendo. Parece coisa de outro mundo.

Outra vez, numa loja, quis comprar uma calça jeans. Saí com uma calça jeans e duas blusas que jamais usei. Desde então, só compro online. Mesmo que seja na loja do bairro.

As relações comerciais precisam mudar urgentemente. Ou somos nós que precisamos nos armar de um exército de “nãos” e monossilábicos secos para enfrentar o shopping center? Um pouco de ambos. Não adianta benevolência ou cordialidade. Quando achei que a cabeleireira queria ser minha amiga, ela só queria me empurrar mais xampu e máscaras capilares.

Existe ética no comércio? Existe ética em um mundo regido pelo lucro? Seria o bom vendedor aquele que empurra muitas coisas que o cliente não quer (mas acaba levando tudo)? É esse o que será aclamado pelo patrão?

Sinceramente, não sei. O que sei é que lidar com instituições comerciais, para mim, é uma tormenta. Não deveria ser assim.

Para não ser grosseira, evito atender ligações desconhecidas. De vez em quando, ignoro mensagens. E sigo assim, lutando para continuar indo reto em um caminho pressurizado por desejos e interesses alheios.

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