Particularmente, tive meu “eu” do futuro alicerçado no que seria liberdade para mim: poder me vestir da forma que eu quero, falar o que eu penso, ir aonde eu desejo e voltar na hora que for conveniente. Talvez esse seja o “eu” de todo mundo, né? Não sei, mas para mim isso sempre teve muita relevância.
Antes, enquanto a infância e a pré-adolescência aconteciam, eu desprendia meu tempo esperando e fazendo de tudo para que o Leandro de 20 anos estivesse em alguns lugares. Estes lugares nunca tiveram formas específicas, mas sinto que hoje eu vivo aquilo que tanto desejava viver, e apesar da gratidão, eu não entendo por que me dói tanto. Falo de dor, porque existe um vazio imensurável em perceber que ao “chegar lá”, a realização não se sustenta. E daí, assim, a vida adulta chegou para mim, como um vácuo. E não tem mais pai e mãe para dizer que vai ficar tudo bem, porque em grande parte das vezes, eles também não sabem.
Para mim o tempo sempre foi apresentado não só como um fator orientador, mas como um medidor de espaço. É curioso pensar nisso, porque além do espaço, o tempo também se apresentou como justo, ou responsável por trazer justiça – e qual justiça o tempo trará? O que você está esperando que ele faça? Depositar na conta do tempo sempre foi o que eu aprendi a fazer, afinal, “com o tempo cicatriza”, “com o tempo você esquece”, “com o tempo as coisas mudam”, “com o tempo tudo melhora” e com o tempo, a única coisa que eu vi, foi o tempo passar.
Não afirmo que nada mudou, mas que apesar do tempo as coisas também aconteceram. E hoje, o “eu” não é o do futuro, é o do agora, e não há nada. A vida se apresenta como ela sempre se apresentou, ela nunca foi diferente disso – mais uma vez, quando eu falo diferente, não digo que nada mudou, mas que as pessoas continuam morrendo, estados continuam buscando se fortalecer, e a classe média continua surpresa ao adquirir um novo Iphone e perceber que aquela tecnologia – surpreendente – provavelmente já poderia existir no último, penúltimo, antepenúltimo e até no primeiro.
E se for adulto é estar constantemente pensando no tempo, então eu cresci. Se fazer aniversário for a contagem para estar mais perto da morte, ou for a comemoração de mais um ciclo que se espera prosperidade; se correr atrás do ônibus for a corrida que definirá o restante do dia; se fazer cinco coisas ao mesmo tempo for o que adiantará o prazer de ver a 17ª temporada de Greys Anatomy toda; se tomar um banho demorado for curar o que os antibióticos não fazem; se alcançar 80KM/H no começo de uma via que tem um radar de 60KM/H, e frear em cima da sinalização, porque há um prazer em estar sempre mais rápido, então eu cresci.
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