Hoje sonhei que procurava uma casa. Cheguei até um lugar em que um homem, de uns 45 anos, capinava um lote com grande empenho. Ele suava enfiando a enxada na terra, enquanto me dizia sobre a importância do cuidado com o quintal. No local havia ainda um grande forno de barro. Há alguns meses tenho cultivado o hábito de anotar meus sonhos diariamente, assim que acordo, logo depois de uma pequena meditação. Tento me lembrar dos detalhes, cenas, personagens e objetos. Fico atenta aos símbolos e tenho acreditado cada vez mais nos sonhos como pequenos oráculos. Compreendi que aquele lote/casa, não dizia respeito a um lugar físico e sim ao meu corpo/casa. Ao que representa para mim, simbolicamente, um lar.
Essa relação mágica e espiritual com os sonhos está presente em diversas culturas. Soube de uma comunidade ameríndia que encara o sonho como o plano real e vice-versa. As bruxas dizem que os sonhos podem trazer respostas. Para a psicanálise podem desvelar enigmas e para nós artistas, são uma baita matéria-prima para a criação.
Após anotar os sonhos, pela manhã, eu faço um ritual de visualizar e escrever afirmações a respeito de 5 palavras/áreas da minha vida, que estão precisando de atenção. Depois de intuir que a “casa” do sonho era uma metáfora, imaginei o meu corpo-lar, fortalecido, como um eixo, um lugar seguro e afirmei: “eu encontro uma casa dentro de mim, aonde há alicerce, paz, amor, firmeza e proteção sempre que preciso”.
Na casa dos meus pais, no móvel da entrada, habita um livro azul, com mensagens para todos os dias do ano. Ganhei de presente da minha prima Camila, no começo da pandemia e deixei aqui para inspirar a dona Regina e o seu Odaque. E adivinhem qual foi a mensagem de hoje? “Voltar para casa”. Na casa da minha infância, ri com a coincidência ou sincronicidade do universo e fiquei inspirada com a proposta de Tadashi Kadomoto sobre estarmos conscientes e realizarmos uma transformação interior, uma conexão pela amorosidade e irmandade.
Me lembrei de uma ocasião em que uma paquerinha preparou um jantarzinho para mim, após eu ter chegado da apresentação de um espetáculo. Dentre os quitutes, tinha um pratinho com alguns dadinhos de doce de leite. Eu vi e comecei a chorar. Ele arregalou os olhos, preocupado e sem entender nada. Eu comecei a rir com a cena, sem conseguir explicar nada. Um papelão. Depois entendi que aquele docinho me remetia a um lugar muito íntimo e especial da infância. Naquele contexto de rotina insana, encontrar um pedacinho de casa, foi emocionante.
Hoje muito se diz a palavra “pertencimento”. Penso que encontrar o nosso lugar no mundo, físico, emocional e espiritual, é algo da maior grandeza e importância. Não há invenção tecnológica, carreira de sucesso, descoberta da ciência, acordo político, obra-prima, se o alicerce nos faltar. Acredito que a conexão com a terra, o cultivo da memória, a escuta do silêncio, a prática do amor, o saber do sabor e o senso de comunidade, são princípios para o pertencer-se ou o voltar à casa. Ou mesmo o cheiro da mexerica, um jogo de baralho, uma fotografia do mar, um livro, uma roupa antiga…
Acredito que prestar atenção aos nossos sonhos e ouvi-los, de uma maneira não literal, mas simbólica e imagética, pode ser uma experiência luminosa. É como descobrir uma rota de fuga para o sufoco ou se surpreender com os desejos revelados.
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