Outro dia saí para fazer corrida com a Lola, minha cachorra, e levei um tombo daqueles. Lola se estranhou com um cachorro que também dava seu passeio, tentou avançar em direção dele e acabou se embolando em minhas pernas. Em alta velocidade, não tive tempo de me reequilibrar antes de atingir em cheio e lentamente o solo. Passou um filme pela minha cabeça durante aqueles breves segundos entre o tropeço na cachorra e a queda. A sensação foi a de que eu caí em câmera lenta.
Espatifei-me no meio da calçada, em plena luz do dia, apoiada sobre o lado esquerdo do corpo: joelho, cotovelo e punho. Minhas armações dos óculos se desprenderam do rosto e viajaram alguns metros à frente. Felizmente, as alcancei intactas e, rapidamente, me recompus, ignorando as escoriações e os olhares dos pedestres que me observavam preocupados. Passei ligeiro por eles, sem tempo para receber solidariedade. Caso contrário, as lágrimas escorreriam.
Agarrando firmemente a coleira, continuei o meu cooper, agora no sentido contrário, rumo ao caminho de casa. Fiz esse trajeto cheia de dor no corpo e constrangimento. Fiz força para segurar o choro e não cair em prantos em público.
Em casa, me lavei e troquei de roupas. Com mais atenção, pude reparar que a minha calça de ginástica tinha se rasgado na altura dos joelhos. O corpo latejava e os edemas começavam a aparecer. Os hematomas também. Em seguida, minha amiga me ligou questionando porque eu não apareci na praça naquela tarde e eu desabei a chorar afirmando: “Eu cai, amiga”. Foi um choro de alívio e desabafo da dor que tinha ficado presa no peito na hora da queda. Além disso, sentia uma dor moral, que me dizia da vergonha. “Cair na rua é coisa de idoso”, eu pensava. Fiquei com a autoestima arranhada por alguns dias até conseguir compreender que não são só os idosos que caem.
Muitas coisas caem. Por diversos motivos e de diversas formas. E geram efeitos.
A menina cai da bicicleta e aprende a se equilibrar.
A moça cai da escada e também cai em depressão.
A esposa cai em si mesma e pede o divórcio.
Maçãs caem nas cabeças e impulsionam teorias.
Raios caem durante tempestade e ensinam estratégias de caminhada em condições inóspitas e inesperadas.
O time cai e é motivo de piadas e deboche da torcida adversária. Taí meu amigo Eduardo que não me deixa mentir.
Na última segunda feira, as redes sociais caíram. Facebook, Instagram e Whatsapp ficaram fora do ar por cerca de 7 horas. O evento desestabilizou o mundo momentaneamente. O bug do milênio veio em escala reduzida e com 21 anos de atraso. Foi um misto de alívio e desamparo. A princípio, o comportamento de verificação constante. Diversas tentativas de atualização fracassadas. Depois, a liberdade, o gostinho do offline e a valorização das interações do mundo real. Sim, podemos viver sem elas.
No cenário de vidas mediadas pela tecnologia e trabalho essencialmente remoto, a percepção geral foi de o quão dependentes e vulneráveis em relação a tecnologia estamos. Após algumas ligações ao vivo, envio de alguns e-mails e “SMSs”, consegui fazer os atendimentos do dia e participar de reuniões usando links do google meet. Não foi tão catastrófico assim.
Não, ainda não perdemos a conexão. E sim, as quedas são por vezes inevitáveis. E, nem sempre, a culpa é da força da gravidade.
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