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Três da manhã

Márcio Magno Passos

Foi a vivência de sete décadas que me ensinou que é normal levantar, quase pontualmente às três horas da madrugada, para urinar. O diferencial no meu caso é que é neste exato exercício rotineiro que me surgem as melhores ideias, criatividade diariamente necessária nesta minha profissão de poucos calos na mão, mas muitos nos miolos que ainda me restam. Nos últimos dez anos, confesso, as melhores ou mais esdrúxulas soluções de comunicação surgiram nesta hora mais fértil da criatividade. Nada a ver com a necessária prática de segurar o dito cujo pelas mãos, mas muito mais pela sonolência do meio acordado e meio dormindo que me leva a retomar em plena madrugada a necessidade profissional de ser sempre criativo. As melhores frases ou slogans de campanhas, políticas ou não, me vieram à cabeça nesta prática fisiológica das três da manhã. Certa feita liguei bem cedo para um cliente avisando que tinha uma solução para determinado problema me colocado no dia anterior.

– Você teve a ideia agora ou às três da manhã?, perguntou ele para ouvir a resposta:

– Três da manhã!

– Então senta aí e bota pra fora que é ideia boa.

E geralmente é. Como agora, às três e vinte da madruga, quando escrevo este texto que provavelmente não é brilhante, mas mostra que meus miolos batem cabeça como sempre às três da manhã. Acredito que as três primeiras horas dormidas distancia o meu celebro das tempestades de informações que a moderna vida diária nos impõe, deixando o espaço aberto para as pendências criativas não solucionadas no dia anterior. E é neste momento meio sonolento e meio acordado que flutuo entre boas, engraçadas, sensitivas e até meio loucas propostas de comunicação, muitas das quais deram muito certo. Isto independe do cliente ou do produto, mesmo porque aprendi que a criatividade se aflora quando você pensa no ou como o público alvo e nunca como seu cliente.

Em campanhas políticas, por exemplo, nunca me coloco no lugar de quem precisa do voto, mas sempre no lugar de quem vota. E nesta luta para trabalhar a preferência do eleitor, muitas vezes me coloco imaginariamente à frente da urna para descobrir o que me leva a votar em determinado candidato. A política é apenas um exemplo, porque o maior peso em toda decisão nossa é o acerto de quem nos vende a ideia ou o produto. Outros fatores, também importantes, que pesam na nossa decisão de compra vêm em seguida, como qualidade, sabor, credibilidade e, principalmente, esperança.

Este é assunto para muitas páginas, mas já são três e quarenta da madrugada e o sono começa a me vencer. Hoje não surgiu nenhuma brilhante ideia. Amanhã, no entanto, é outro dia e, quem sabe, ela vem? Boa noite e até daqui a pouco. Ah-ha-há que sono!

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