Hoje eu corri atrás de você e dos seus irmãos, mas não te encontrei. Talvez você já tenha ido e só volte a dar as flores no ano que vem. Até achei os seus primos, roxos, mas eu precisava era te ver, conversar um pouco, até te abraçar. Eu iria também tirar uma fotografia, que é uma espécie de mecanismo que a humanidade criou para guardar instantes. Uns bonitos, outros chocantes, uns de comemoração, outros de despedida.
Além de você e a sua família florescendo por todo lado, há um outro motivo para o setembro ser o mês amarelo. No Brasil, o Cristo Redentor, o Congresso Nacional e outras construções são iluminadas dessa cor nessa época. Isso porque o Setembro Amarelo tornou-se o mês de prevenção ao suicídio, em homenagem a um garoto que, na década de 90, nos EUA, deu cabo da própria existência no seu yellow car. No enterro a família distribuiu fitas da cor numa campanha de prevenção.
A humanidade inventa de um tudo, inclusive o seu próprio fim. Eu poderia te contar vários dados, que basicamente são números com status de verdade. Dizer de estatísticas alarmantes sobre o nosso país, sobre o adoecimento mental, mas também físico, emocional, espiritual e material da população. Eu poderia contar sobre a dificuldade e o tabu que existe em conversarmos sobre a morte e sobre esse tipo de morte, em específico. Se não trocamos sobre o problema, muito menos trocaremos sobre as possíveis soluções. Você bem sabe sobre o fio que existe entre a semente e o fruto.
Bom, mas como a minha função na Terra é ser poeta, resolvi me guiar pela intuição, que é uma espécie de flor que brota no sentido, e escrever pra você. O objetivo talvez seja aprender um pouco sobre a capacidade que vocês, árvores, têm de permanecer e respirar, fazer nascer e deixar morrer. Adaptar-se, entortar-se para seguir o sol. Adoro ver as folhas envelhecendo, se retorcendo. Gosto muito também de ver a diferença entre uma folha e outra. O balé das flores voando é de emocionar. Ouvi hoje que a arte não se compara ao nosso deslumbramento diante dos fenômenos naturais. De fato.
Precisamos aprender sobre a beleza e suas várias texturas, cheiros, envergaduras. Sinto que, para a humanidade, sentir o tempo passando na pele é algo terrível. Existem muitas estratégias para estancar o tempo. Mas é só uma fantasia, pois ele continua germinando, inexorável. Percebo também uma dificuldade em deixarmos as coisas, as situações e as relações morrerem. Na intenção de tudo ser eterno, perdemos a ternura e estancamos o brilho dos instantes numa fotografia artificial. Também temos dificuldade com a fragilidade, a própria e a do outro e, por isso, não nos acolhemos.
A tristeza talvez seja uma pista. Tristeza é um troço que surge no peito e vai tomando conta do corpo todo. Se o ser não se movimenta, aquele céu acinzentado fica lá, parado. Ouvi do poeta Hélio Leite que “a tristeza deixa ver as coisas que a alegria não deixa”. A alegria, como bem definiu a escritora Adriana Falcão “é um bloco de carnaval que não liga se não é fevereiro”. Carnaval é uma festa, um negócio tão maravilhoso que eu não sei nem te explicar. É como se você se vestisse de jabuticabeira e saísse saltitando pelos canteiros e praças, tomando litros de seiva.
Fico pensando em como podemos cultivar a felicidade, aprendendo com os dias chuvosos. Há muitas pessoas sofrendo agora, nesse momento. Imagina se todas elas tivessem um ombro/tronco amigo, um acolhimento sem julgamento, um apoio das pessoas que a amam. Amigos, familiares, colegas… E também de profissionais, psicólogos, psiquiatras, terapeutas holísticos, mestres espirituais. Imagina se essas pessoas ativassem uma fé, enorme. Caio Fernando de Abreu disse “eu te desejo uma fé enorme, não importa no quê.”
Puxa, eu perdi um amigo muito querido dessa forma. Ele se chamava Fernando como o poeta. Você ia adorar receber um abraço dele e com certeza ele tiraria uma fotografia linda sua, mestre que ele era nessa arte. Bom, a vida dele não deu tempo de poupar, mas espero que a gente consiga um jardim humanidade mais fértil e que no futuro toda a gente esteja com a mente sã, a barriga cheia, o corpo forte, o coração tranquilo e a alma leve. Ah, e que o setembro seja lembrado pela vida em abundância e pela incrível floração de vocês, ipês!
Te deixo de presente, um trecho de uma música que brotou em mim, transformando as cores de dentro:
“Oi gira, gira,
gira todo o tormento sem sofrimento,
gira todo lamento que não tem cabimento.
oi gira, gira,
gira o mau olhado o corpo acochambrado,
gira o remendado e o coração despedaçado…
oii gira, gira, igra gira gira gira gira…”
Com carinho,
Luísa.
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