Categories: Sem categoria

Hipocondrismo

Victória Farias

Já tivemos a oportunidade de ler nesse espaço um texto da querida psicóloga Daniela Piroli Cabral, sobre quantos comprimidos nós – adultos – ingerimos ao longo da vida. Todos os males, daqueles inimagináveis até aqueles que não conseguimos pronunciar os nomes, encontram uma barreira que os impede de seguir degradando o nosso corpo. Geralmente essa barreira vem em forma gelatinosa, em outras, mais consistente ou até mesmo em gotas.

Essa semana presenciei uma relação nova – para não dizer incômoda – com esses comprimidos e a forma com que eles fazem parte da minha vida. Depois de ser afligida por uma virose que me tirou quilos, ânimo e esperança de vida, experienciei uma dificuldade em particular de me alimentar bem. Toda a comida que entrava insistia em não ficar, o que poderia me levar aos caminhos da desnutrição se isso continuasse assim.

Depois de uma manhã no médico e uma receita de três páginas, me dirigi a farmácia para as “compras do mês” – não sei vocês, mas a expressão “fazer farmácia” suscita em mim calafrios inexplicáveis. Como todo morador de Belo Horizonte e região metropolitana sabe, as farmácias daqui carregam um apelo quase mercadológico. Em algumas é difícil diferenciar se você está entrando em um shopping ou em uma drogaria. Lá tem tudo, até mesmo com preços mais acessíveis do que em supermercados. Lembro de ler em algum lugar, algum dia, que “saúde não é mercadoria”. Essas lojas gigantes com corredores enormes no centro da cidade me forçam a discordar.

Sem me preocupar em tirar a receita da bolsa e lembrando de tudo o que precisava só de cabeça, saí de lá de sacolas cheias, também com bugigangas interessantes e de nula utilidade. Mesmo assim, consegui garantir os remédios que evitam a minha febre noturna e a minha falta de apetite; que garantem que a comida ficará onde deve – no meu estômago – e que evitarão minhas dores de cabeça. Lembro que no texto da Daniela ela se deu ao trabalho de contar quantos comprimidos tomamos, mas eu me desobrigarei disso. Se o fizesse, teria que adicionar a soma um para tristeza, outro para esquecimento, e outro para me lembrar do que esquecer.

Blogueiro

Share
Published by
Blogueiro

Recent Posts

Ainda pouca mas bendita chuva

Eduardo de Ávila Depois de cinco meses sem uma gota de água vinda do céu,…

10 horas ago

A vida pelo retrovisor

Silvia Ribeiro Tenho a sensação de estar vendo a vida pelo retrovisor. O tempo passa…

1 dia ago

É preciso comemorar

Mário Sérgio No dia 24 de outubro, quinta-feira, foi comemorado o Dia Mundial de Combate…

2 dias ago

Mãe

Rosangela Maluf Ah, bem que você poderia ter ficado mais um pouco; só um pouquinho…

2 dias ago

Calma que vai piorar

Tadeu Duarte tadeu.ufmg@gmail.com Depois que publiquei dois textos com a seleção de manchetes que escandalizam…

3 dias ago

Mercados Tailandeses

Wander Aguiar Para nós, brasileiros, a Tailândia geralmente está associada às suas praias de águas…

4 dias ago