Já tivemos a oportunidade de ler nesse espaço um texto da querida psicóloga Daniela Piroli Cabral, sobre quantos comprimidos nós – adultos – ingerimos ao longo da vida. Todos os males, daqueles inimagináveis até aqueles que não conseguimos pronunciar os nomes, encontram uma barreira que os impede de seguir degradando o nosso corpo. Geralmente essa barreira vem em forma gelatinosa, em outras, mais consistente ou até mesmo em gotas.
Essa semana presenciei uma relação nova – para não dizer incômoda – com esses comprimidos e a forma com que eles fazem parte da minha vida. Depois de ser afligida por uma virose que me tirou quilos, ânimo e esperança de vida, experienciei uma dificuldade em particular de me alimentar bem. Toda a comida que entrava insistia em não ficar, o que poderia me levar aos caminhos da desnutrição se isso continuasse assim.
Depois de uma manhã no médico e uma receita de três páginas, me dirigi a farmácia para as “compras do mês” – não sei vocês, mas a expressão “fazer farmácia” suscita em mim calafrios inexplicáveis. Como todo morador de Belo Horizonte e região metropolitana sabe, as farmácias daqui carregam um apelo quase mercadológico. Em algumas é difícil diferenciar se você está entrando em um shopping ou em uma drogaria. Lá tem tudo, até mesmo com preços mais acessíveis do que em supermercados. Lembro de ler em algum lugar, algum dia, que “saúde não é mercadoria”. Essas lojas gigantes com corredores enormes no centro da cidade me forçam a discordar.
Sem me preocupar em tirar a receita da bolsa e lembrando de tudo o que precisava só de cabeça, saí de lá de sacolas cheias, também com bugigangas interessantes e de nula utilidade. Mesmo assim, consegui garantir os remédios que evitam a minha febre noturna e a minha falta de apetite; que garantem que a comida ficará onde deve – no meu estômago – e que evitarão minhas dores de cabeça. Lembro que no texto da Daniela ela se deu ao trabalho de contar quantos comprimidos tomamos, mas eu me desobrigarei disso. Se o fizesse, teria que adicionar a soma um para tristeza, outro para esquecimento, e outro para me lembrar do que esquecer.
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