O noivo garantiu que não ficaria nervoso, mas estava tremendo e suando em bicas. A noiva prometeu que seria pontual, mas chegou com trinta minutos de atraso. A igreja estava linda, ornamentada como nunca antes esteve, exceção permitida à mãe, religiosa e assídua há décadas.
Os convidados responderam presente e ocuparam todos os espaços, com muita gente ficando em pé. Os trajes foram selecionados naquele lado pouco frequentado do guarda-roupa. O anúncio de inverno chegando ajudou e gravatas, paletós e lantejoulas deram o tom da noite. Casais novos, outros nem tanto, alguns casados ainda namorando e outros com bebês ao colo. Criança, jovem, senhor de terceira idade. Todos devidamente representados por pessoas sorridentes e bem vestidas.
Ouve-se uma música clássica e a porta da igreja abre-se. Entram os casais padrinhos, alguns casados e outros apenas fazendo cena para ficar mais bonito. Fecham-se as portas. Acompanhado pelos pais entra o noivo em calça cinza com linha de giz e paletó preto sobre colete também cinza. Fecham-se as portas. A terceira música anuncia a entrada das damas de honra que desfilam até o altar.
Fecham-se as portas que seriam reabertas definitivamente minutos depois com a Marcha Nupcial. Surge o pai sério e emocionado, braço dado com uma sorridente e visivelmente feliz noiva, deslumbrante em seu sonhado vestido branco. O ambiente é de pura emoção; todos se entreolham com sorrisos de aprovação.
O padre, aliviado, depois de perceptível inquietação com a demora, permanece imóvel no centro do altar, enquanto o noivo retorna alguns passos para receber a amada das mãos do já quase sogro. A cena é meio descoordenada, meio sem graça, mas a singeleza é recuperada com o braço dado e o desfile reiniciado até o altar.
Com previsível variação para melhor ou para pior, o que depende da facilidade de expressão e da disposição do reverendo, a cerimônia começa com uma preleção sobre o que representa o matrimônio e suas responsabilidades, onde não faltam as devidas advertências e alertas sobre dificuldades e possíveis desentendimentos. Os noivos fazem ouvidos de mercador. Afinal, ninguém casa pensando em dificuldades ou separação.
O clima de emoção chega ao seu apogeu com a benção das alianças e juras de amor eterno. É hora de assinar o papel, o que fazem também em seguida os padrinhos e madrinhas.
Enquanto isso, os noivos são arrastados a um canto mais decorado para a sessão de fotos de rostos colados e beijos de selinho. Passam-se intermináveis trinta minutos ou mais, as assinaturas já foram colhidas, mas o fotógrafo insiste em queimar mais algumas chapas com os padrinhos, as damas de honra, os pais, os irmãos e mais o que pintar na cabeça dele.
Os convidados começam a dar demonstrações de inquietação, alguns deixam a igreja e outros começam a conversar. Enfim, o casal é liberado para fazer o desfile de saída da igreja. É uma saída triunfal. O casal sorri de alegria, de felicidade, sorri dos amigos e das amigas que ainda não conseguiram se casar, sorri de tudo até chegar à porta da igreja e receber uma pratada de arroz cru na cabeça (dizem que dá sorte), para depois serem literalmente empurrados para dentro de um carro com o argumento de que cumprimentos só seriam permitidos na recepção.
Uma fila enorme e lenta congestiona a entrada do salão. Muitos preferiram evitar aquela canseira, mas é politicamente correto entrar na fila, cumprimentar a noiva, depois o noivo, a mãe da noiva, o pai da noiva, a mãe do noivo e o pai do noivo, além de irmãos de irmãos, tios e avós, que costumam ficar na recepção aguardando os presentes que – diga-se de passagem – são poucos na carestia atual.
Noivos e famílias, devidamente cumprimentados, restava aos convidados disputarem um prato de iguarias na mesa de frios, empanturrar-se de cerveja ou refrigerante e saborear um caldo de despedida e um bombom de saideira, quando os noivos já dão sinais de cansaço e de vontade de colocar os pés na estrada. Lá vão eles para a lua de mel até que a morte os separe. Ou alguém… ou a vida.
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