É sabido que boa parte dos jornais vive de publicar más notícias. São estas as que geram mais interesse, as que chamam mais a atenção. Existem periódicos dedicados quase que exclusivamente ao relato de crimes. Vendem como água e não se pode dizer que agregam nenhum outro tipo de informação.
Tive uma vizinha que adorava contar tragédias. A cada encontro, era uma pior e diferente. Eram desgraças sobre gente que eu nem conhecia. Mesmo assim, ouvia-a descrevê-las com riqueza de detalhes e grande variedade de entonações macabras.
A que parte de nós serve essa mania?
Por que nos atraímos pelo horror mesmo que conscientemente busquemos a felicidade?
Pode ser que sintamos algum tipo de adrenalina ao saber do perigo possível. Ou que evoquemos nossa sorte pelo fato trágico não ter acontecido conosco. Que tomemos a real dimensão do tamanho da fúria do universo. Ou que aprendamos com as situações alheias e possamos nos proteger a partir delas. São muitos motivos…
Entretanto, desconfio que não seja a melhor escolha reter o foco em histórias tristes. Um dos maiores aprendizados que tive na vida foi com o meu marido. Ele tem um olhar completamente voltado para a certeza de que tudo sempre dará certo. Sua confiança é profunda. Não gosta de ouvir nem de falar sobre desastres. Antes de qualquer coisa acontecer, ele já parte de um lugar de fé e otimismo.
Muitas coisas obviamente dão errado. Porém, por algum motivo, o fato de não antecipar a ansiedade pela possibilidade do erro torna o próprio erro menos grave e dolorido.
Por perceber que isto lhe é inato, não tenho a intenção de propagar aqui esta “técnica”.
Quero apenas ressaltar a opção que se tem de não viver o constante vaticínio da tristeza. Como parece querer a mídia. Como parece que somos viciados em fazer. Como parecer ser uma modalidade meio histérica de existir. Pois, ao apontar a falta, mostro que não há paz possível. E, assim, justifico a minha própria aflição.
Ou pior.
Essa sensação, uma vez implantada, é um campo fértil para a doutrinação. Seja religiosa, política ou capitalista. Quando, ao contrário, aposta-se na confiança, na segurança e no sucesso, perdem empresas de seguro, perde um grande e rentável staff, perdem muitos egos alheios…
Já fui uma pessoa muito temerosa. E sou muito grata por ter aprendido ao longo de alguns anos a ter um olhar mais otimista para a vida. Não se deve ignorar a ciência e muito menos as vacinas – elas são, e muito, necessárias! Porém, recuso-me a viver pensando sempre o pior sobre tudo e disputando qual o detalhe mais sórdido sobre a pior história que alguém tenha me contado. O medo é uma forma de controle e enquanto for possível usar a razão – e um pouco de rebeldia – contra ele, o manche da minha aventura (de viver) estará comigo.
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