Victória Farias
É de conhecimento geral, de toda a República, que alguma coisa tem de ser feita por alguém. Não digo nomes, nem mesmo cargos. Deixo a consciência coletiva – e seletiva – crucificar quem quiser. Mas crucificar educadamente. Sem colocar culpa nem mesmo subir os números das estatísticas.
Várias coisas têm sido fatídicas nos últimos tempos e é difícil colocar na balança. Até porque não dá para levantar tudo nos ombros e mostrar para a cega Senhora Justiça, que tem seus olhos e ouvidos cobertos, e o nariz, a única coisa que desponta do rosto disforme, corre risco de ser via de infecção para – Deus sabe o quê.
É necessário – muito mais do que recomendado – ter um pouco de ignorância de canto de olho. Não é possível continuar são quando se lê, às 06h da manhã – tenho a mania de ofício de ler notícias como a primeira coisa do dia – que o país não se sente pressionado pela pandemia estar no nível em que se encontra, e não se entende o porquê da histeria coletiva.
Eu não pude acreditar. Eu fingi que não acreditei. Arrumei a cama já não acreditando. Tomei banho me convencendo. Comprei um café no ápice do esquecimento. Sentei na frente do computador no trabalho e soltei para a tela preta: “COMO ASSIM ELE NÃO ENTENDE!!!?”
Ah, Justiça. De todos os poderes, por que você foi o único fadado a não ver? E assim, historicamente, se faz o que sempre se fez. A torcida, como tem sido nos últimos anos, está ávida por seletas cabeças. Estão prontos para massacrar quem não se encaixar nesse imaginário de bonequinhos de pano e homens nus contra o verde.
E assim começamos mais uma segunda-feira de 2021. Faltando apenas – pasmem – três meses e meio para o fim do ano, 2022 se parece como um spectrum que insiste em nos recordar tudo de trágico que pode acontecer em sua presença. Enquanto fingimos que ele não se aproxima e passamos os dias brindando a uma guerra que pode não acontecer, ele se prepara para se provar mais traumático do que seus predecessores. Não porque ele queira, mas é o mínimo que se espera de um ano de Copa do Mundo. O quê? Achou mesmo que eu estava falando das eleições?