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O champanhe de Rosana

Márcio Magno Passos

O casal estava com o moral em alta. Além de padrinhos da noiva, foram escolhidos para transportá-la à igreja no dia do casamento e, após a cerimônia, levar o casal para uma sessão de fotos, já que a inédita recepção aos convidados foi no dia anterior. Como retribuir tamanha deferência? Fácil, surpreender a noiva em alto estilo. Como? Abastecendo o carro de bom champanhe para brindar com os noivos na hora das fotos. Ideia da criativa madrinha para o braçal do padrinho cumprir.

Champanhe tem que ser gelada e servida em taças, componentes que não fazem parte dos assessórios do veículo que ia transportar o casal de nubentes. Começaram aí os problemas que não terminariam mais. Primeiro a compra do champanhe. Precisavam apenas de duas, mas como a mulher gostou do preço acabaram levando meia dúzia. No dia do casamento vai lá o padrinho abastecendo o carro com as garrafas do precioso líquido, mais uma pesada e desajeitada caixa térmica, além de quatro taças de vidro aparentemente honesto a ponto de desempenhar um bom papel nas programadas fotografias.

O casal toma a estrada em direção a Itabira, onde seria o casório. Lá chegando, coube ao padrinho, é claro, subir os sessenta degraus do prédio sem elevador, para guardar no apartamento a encomenda, caixa térmica incluída. E o gelo pra preservar a temperatura do champanhe na hora das fotos? Lá se foi o casal de padrinhos comprar um pacote de gelo e subir com ele nos ombros os sessenta degraus. Antes de atender à noiva, foi lá o padrinho-motorista buscar a madrinha no salão de beleza. Uma belezura pronta hora e meia antes do horário marcado com a noiva. O padrinho subiu os sessenta degraus para se barbear, tomar banho, botar o terno e gravata e descer os mesmos degraus com a caixa térmica. A subir e descer tantos degraus mais uma vez, a madrinha preferiu ficar no carro ouvindo música e aclimatada no ar condicionado.

Uma hora depois lá vem o padrinho prontinho e desajeitado com a caixa térmica dos champanhes sobre os ombros. Ajeita a encomenda no porta-malas, entra no carro e bate a chave. Nada, nadinha de nada. A bateria arriou, pois a madrinha curtiu o ar e o som com o carro desligado.
Desespero geral diante dos 25 minutos que faltavam para apanhar a noiva no salão. Depois de cinco tentativas de contato com o mundo, a decisão mais sensata: buscar a noiva no carro velho e sujo que estava na garagem. O padrinho pegou a já famosa caixa térmica e desceu pra garagem (vinte degraus). Lá chegando, percebeu que a chave estava no último andar, distante oitenta degraus. Largou a caixa no chão, subiu num pé e voltou noutro. Ajeitou a caixa no novo porta-malas do carro velho e saiu em disparada para alcançar a mulher na porta do prédio.

Já chamei o Jânio e o tio Vitalino e eles estão vindo pra dar uma carga na bateria.

Quinze minutos depois chegam os socorristas, restabelecem a energia do carro menos velho e o casal sai em disparada para encontrar a noiva pronta e já esperando. Chegaram à igreja sem maiores problemas, a cerimônia muito bonita e concorrida, com os cumprimentos na porta da igreja demorando bem mais de meia hora. O casal de padrinhos sempre lá com olhar de cumplices, escondendo a surpresa. Até que a noiva, sem ter mais quem abraçar, se aproxima e informa que as fotos foram canceladas e, despedindo-se, avisou que estava saindo dali direto pra lua de mel.

Meia hora depois o padrinho subia, mais uma vez, os sessenta degraus até o apartamento com uma ainda mais pesada caixa térmica nos ombros, acompanhado de uma madrinha emburrada porque a surpresa não deu certo.

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