Outro dia fiz aniversário. Uma vela de 3 e outra de 2, para aquecer todos esses invernos vividos. Meditei sobre a arte de atravessar o tempo, e a pulsão de vida que surge no “nosso dia”. Em geral, fazer aniversário significa: receber abraços, mensagens, alguns presentes, talvez um bolo com vela, balões, uma festa surpresa, as pessoas cantam “parabéns para você” e talvez entoem o traumático “com quem será”. Desde a tenra infância aquela desagradável pressão matrimonial.
Aprendi com a Super Interessante, que a origem da festa de aniversário retoma tradições romanas. A celebração era uma precaução para afastar os anjos malignos. O bolo redondo, em formato de lua cheia, era dado em oferenda à deusa Ártemis. A vela, além de espantar maus agouros, lançava preces enfumaçadas aos céus. Conhecer essa tradição me fez pensar na importância dos ritos e da vida em comunidade.
Me lembrei também daquela incrível tradição africana, em que a mãe escuta a canção da criança que virá. Depois ela ensina a música para toda a aldeia cantar junto, no dia do nascimento do bebê. Essa canção, única, é cantada em todos os momentos importantes da vida daquela pessoa. Nos dias de glória, dias de luta, e nos tropeços também, relembrando-a da sua essência.
Os ritos nos fazem recordar do encantamento do mundo! Imagine se você soubesse a canção dos seus parentes e amigos próximos? Imagine se pudesse cantar junto deles, nos encontros, ou se pudesse cantarolar baixinho, costurando a saudade? Todo dia tem alguém fazendo aniversário! Todo dia tem alguém nascendo e provocando uma vibração de alegria, amor, abundância e fé na vida.
Eu não sei vocês, mas pra mim fazer aniversário é como estar numa festa de ano novo. E de fato é! Retornar ao fio dos desejos profundos, rir ou chorar com as fotos antigas, começar as famosas listas de tarefas, que dificilmente serão realizadas até o fim, e, sobretudo, exercitar a gratidão! É também tempo de dar adeus ao ano velho. Lidar com a morte nos parece terrível. Hoje ouvi da querida artista Juliana Barreto “a morte é uma professora charmosa”. E de fato é! Ela lança o seu perfume, pra gente aguçar o olfato para a vida. A lua mingua para ser nova e crescer de novo.
O bolo lua cheia, ofertado a Ártemis deusa das luas, é um símbolo do constante ciclo do nascer-morrer. Nos desconectamos tanto da natureza da Natureza, que não prestamos atenção quando o céu diz algo novo, quando é tempo de mudar o alimento, de fazer silêncio… Não sabemos mais as canções para plantar, para colher, para pescar ou separar os grãos. Todos os dias tem uma mãe lá do outro lado do Atlântico, ouvindo a canção do próximo integrante do Planeta. Todos os dias tem alguma carpideira encomendando a alma de alguém. Ultimamente estamos tão atolados no luto, que nos parece inadequado vibrar com a vida.
Os sentidos estão anestesiados, literalmente. Mas aí sempre surge algo para nos lembrar que o instante existe. O fogo, a lua, um carinho, uma carta, um uivo, uma comida boa, abraçar um bebê bochechudo. Caetano Veloso me soprou uma canção bonita, que ele cantou quando o seu filho Zeca nasceu. Ailton Krenak também marcou presença na festa, dizendo que todos fomos convidados para uma incrível dança cósmica. Vamos dançar?
“Lhe damos as boas-vindas,
Boas-vindas, boas-vindas,
Venha conhecer a vida,
Eu digo que ela é gostosa,
Tem o sol e tem a lua,
Tem o medo e tem a rosa,
Eu digo que ela é gostosa…”
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Seja bem vinda, Luísa!
Em meu nome, tenho certeza que dos demais miranteiros, te dou "boas vindas" nesse espaço que dividimos.
Parabéns duplo, pelo níver ontem e por sua estreia com um delicioso texto. Honrados, fibamos, com sua parceira.
Valeu querido, muito obrigada! Um prazer estar aqui.
Um abraço.
Que lindo pensar nesses rituais da vida... Que esse seja um ambiente de muitos frutos. Parabéns pela estreia por aqui.
Querido, muito obrigada!
Os ritos nos lembram do encantamento da vida, né?
Agradecida pelo apoio!
Beijão,
Luísa