(dedicado a Danielle Monteiro)
O inverno chegou e me pediu recolhimento e calma. Na sombra da lua minguante me recolho, ela pede silêncio. Tem dias que o céu é explícito demais. Imensidão de azul.
Tenho escrito cartas. Cartas para os astros, cartas para aqueles que partiram. Tenho falado de abstrações e de simbolismos. Andei caminhando nas pegadas daqueles que vieram antes de mim. Mas ousei me arriscar. Na sombra dos nossos mortos, quais deles estarão sob os nossos ombros, quais estarão debaixo de nossos pés?
Na semana passada eu recebi uma carta muito especial. Uma carta registrada e urgente. Ela trazia constelações e um ponto final. Sorri e chorei, simultaneamente. Tudo o que precisava estava contido naquele envelope. Nele, eu era, ao mesmo tempo, remetente e destinatária. Naquela mistura de letras e estrelas eu percebi o meu tamanho. Posso ser invisível, posso ser gigante.
Depois, eu respondi. Risquei o corpo. No banho, as palavras escorreram para o ralo junto com as águas do chuveiro. Talvez não. Talvez as palavras tenham se infiltrado mansamente como gotas na pele, através dos poros. A verdade é que não me importa. O que importa mesmo é que a dor virou poesia. E eu criei asas. A roda girou.
A vida tem as suas ambiguidades. Que bom que ela vem com dúvidas, que às vezes me deixam insegura, mas na maioria me movem em direção à novidade, à sabedoria e ao crescimento.
Que bom que a vida vem com suas perdas, que me doem até o infinito, me deixam momentaneamente perplexa, mas me dão uma perspectiva inestimável de valor. Que bom que as perdas permitem recomeços.
Que bom que a vida vem com afeto que sou capaz de sentir nas reciprocidades dos encontros. E que bom que todo encontro tem seu propósito intrínseco, embora às vezes imperceptível. O afeto é como uma substância catalisadora de mudanças. Duas gotas bastam, a transformação já foi feita.
Que bom que a vida tem um corpo perfeito, com pés e coração. É com ele que caminho e respiro. É com ele que caminho e abraço. É com ele que caminho e canto. Que bom que a vida vem com um corpo ventre, que gera vida e movimento. Incessante ciclo de regeneração.
Que bom que a vida vem com fé, que me renova mesmo quando eu estou no maior desespero, caminhando na beira do abismo. A fé, que me faz serena diante das maiores provações.
Que bom que a vida vem com tempo e o mais precioso dele é o hoje.
Não importa mais por onde o meu olhar andou, às vezes perdido, desatento, desolado. Não importa o que ele verá no futuro. Importa que ele está bem comigo agora. E, atento, fita os seus.
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