“Enfim, não haveria mais revolta.”
– Philippe Pozzo di Borgo
Não sou eu quem digo – é a opinião pública: algo de muito estranho vem acontecendo no submundo da internet. Tirando todos os crimes que insistem em se passar impunes por lá, algumas pessoas vem ganhando superpoderes estratosféricos que não deveriam ser confiados a ninguém – sendo ele humano ou código binário.
Muito se gosta de repetir por aí, como um mantra de redenção ou uma auto designação de autoridade: Vox populi, vox Dei. Mas nesse vai e vem de posicionamentos de grupos sociais, Deus tem falado coisas muito estranhas e ressentidas. O que é completamente compreensível, levando em conta que antes da tradução para o português, Jesus não perdia a oportunidade de chamar a todos de hypocritæ! Fomos nós que instauramos a bondade, e agora, fazemos questão de tomá-la de volta.
Mas no final das contas, não é a voz de Deus que me preocupa, mas sim seu silêncio. Ou os pequenos espaços que os seus defensores raivosos deixam de cobrir. Os olhos bem fechados para questões apocalípticas. O nosso verdadeiro fim. A conta é muito simples, se todos os telhados são de vidro, enterremos de volta todas as pedras.
Mais uma vez pedindo ajuda – socorro mesmo – à psicologia, fui apresentada ao termo “colapso de contexto”. Que nada mais é do que o uso de postagens, comentários e falas fora do seu cenário original, criando uma eterna tragédia shakespeariana. Alguém deveria avisar a Romeu que Julieta ainda estava viva. Mas ao invés disso, todos mantinham suas preocupações na preservação – e manutenção – do ego de aristocratas italianos.
Deixemos os cancelamentos para planos de internet e televisão por assinatura. Deixemos as “exposições” para as artes, as contradições para a poesia, o desenterro de postagens antigas para os seres do futuro e as revoluções para o seu tempo.
A realidade tem sido cruel demais. O futuro me parece injusto demais. Para a nossa sobrevivência em sociedade, a única saída será nos amontoarmos em tribos. Trocar likes por comida, nos alimentarmos do sol. Estamos nos tornando, lentamente, pedacinhos de nós mesmos, nos fragmentando a cada “aceito o termo de uso” não lido. Em silêncio, oraremos para que Neo, mais uma vez despertado, garanta nosso lugar no frio e competindo por nada – como sempre foi –, fora da Matrix.
*
“Colapso de Contexto” por Danah Boyd – danah boyd | apophenia » how “context collapse” was coined: my recollection (zephoria.org)
*
Wander Aguiar Lembram do churrasco na Palestina? Pois bem, esqueci de apresentar um personagem inusitado…
Sandra Belchiolina sandra@arteyvida.com.br Voo, Voa, avua, Rasgando o céu, Voo no deslize. Voo, Avua, Rasgando…
Daniela Piroli Cabral contato@dnaielapiroli.com.br Hoje, dia 20 de Novembro, comemora-se mais um dia da Consciência…
Eduardo de Ávila Assistimos, com muita tristeza, à busca de visibilidade a qualquer preço. Através…
Silvia Ribeiro Nas minhas adultices sempre procurei desvendar o processo de "merecimento", e encontrei muitos…
View Comments
Belo texto, e, se todos compreendessem!!! O mundo avança, imundo!!!