O Brazil e adjacências

O Brazil e adjacências – Foto: Pintura da Viagem de Humboldt
Victória Farias

Renegados a América Latina e Caribe, vivemos um eterno sonho de uma noite. Poderia dizer que de verão, mas todas as estações já se passaram – mais de uma vez – e de cá continuamos sonhando, não exatamente por ou com dias melhores – não podemos nos dar esse luxo – mas de certo com momentos estáveis, em que cada atualização do noticiário não seja passível de um, entre tantos, infarto.

Conheço muitas pessoas que, em desespero – ou por motivos menos plausíveis – , pensam em abandonar o barco. Se eu fosse um marujo com vistas ao Triangulo das Bermudas – onde tudo se perde – também abandonaria. Cogitam retrilhar o caminho para o Velho Mundo, não mais de bote, é claro, mas de avião, primeira classe. Aos conterrâneos que fizessem por lá – se assumir brasileiro é uma pedra no sapato de muitos – diriam, em tom de velório: – Realmente, o que está acontecendo no Brasil é uma tristeza! E aquele presidente? Quem colocou o homem lá?

Mas tende bom ânimo! Durante a pandemia, esses seres de coração aberto e abnegados da vida – também conhecidos como ricos e herdeiros de grandes fortunas – doaram, para salvaguardar o Brazil, cerca de R$6,9 bilhões. Tudo bem que isso não ajudou a nos manter entre as dez maiores economias do mundo, e nem vai evitar o colapso vindouro do nosso PIB, mas que é um grande gesto do bom coração alheio, não há como negar.

Seguimos aqui em um dos países que apesar de tudo insiste em permanecer na lista dos mais bonitos e de melhor localização do mundo. Poderíamos – literalmente – fazer o que quiséssemos. Ser quem quiséssemos. E, o pior de tudo, ditar nosso destino como quiséssemos. Mas como o querer é um rombo no coração dos apaixonados, que entra dia e sai dia juram que o amor irá se declarar para eles como em um filme de romance, continuamos esperando, pacientemente, alguém ter a misericórdia de nos amar.

Meu único alento é saber que tudo terminará em samba e pizza. A maior vergonha de uns é o cruzar das pernas e apreciação da culinária de outros.

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Victória Farias

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