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Em busca do filme perdido

Orson Welles na praia de Copacabana durante as filmagens de “É tudo verdade”, 1942 (Universidade de Michigan/Special Collections Library)
Guilherme Scarpellini
scarpellini.gui@gmail.com

Perto de completar 80 anos, “Soberba” (1942), de Orson Welles, está como a minha avó: com tudo em cima. Deslumbrante em preto e branco, vigoroso em sua narrativa atemporal e sólido como uma pedra preciosa, vem atravessando sucessivas gerações na condição de clássico do cinema.

Mas se você pôr o filme para rodar agora mesmo, pasme, terá perdido um terço da história. Isso porque a RKO Pictures, estúdio que detinha os direitos da obra, num malabarismo de edição, acabou cortando 43 minutos de gravação, além de refilmar algumas cenas e inserir outras — tudo à revelia de Welles, que ficou P da vida.

A sorte é que o Quiosque do Seu Vavá, a milhares de quilômetros de Hollywood, mas cravado no coração de Copacabana, deve ainda guardar, entre restos de cocos e cascos de cerveja, uma bobina com a cópia completa da obra de Welles. É que o diretor americano, ao finalizar as filmagens de “Soberba”, foi contratado para filmar o Carnaval de 1942. Pôs uma cópia do filme na mala e embarcou para o Rio. O resto é história.

Bebeu e comeu como um glutão nas noitadas do Cassino da Urca. Brincou com lança-perfume nos bailes de Carnaval. Apaixonou três vezes a cada vez esvaziou um copo. Entre duas da tarde até a hora de abrir a primeira garrafa, trabalhou um pouco também: filmou as cenas de “É tudo verdade”, o que fez pela metade.

Welles brinca com lança-perfume com foliões em baile de Carnaval, em 1942 (Universidade de Michigan/Special Collections Library)

Meses de farra depois foi embora. Sem dinheiro, sem contrato com a RKO e sem filme — nem um, nem outro. A bobina ficou.

Welles prometeu mundos e fundos a uma dezena de namoradas que arranjou no Brasil e uma delas deve ter ficado com o filme. Pode ter sido a avó do Vavá do Quiosque, a sogra do Zezé da empada ou a tia do Ninico da Feijoada. Não se sabe. Certo é que que a bobina não embarcou de volta.

Agora a rede americana TCM anunciou um documentário, que vai registrar a busca pelo filme perdido. Vavá, Zezé ou Ninico, não se faz ideia com quem esteja a tal bobina. Mas já se especula o quanto ela vale.

Guilherme Scarpellini

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  • A matéria faz graça, mas já li em outro veículos detalhes de que até o Sganzerla estava envolvido na busca pelo filme. Segundo consta, o filme estava em um arquivo da Cinedia, possivelmente de forma anônima, e a hipótese é ir ter parado nas mãos de algum colecionador que aproveitou a oportunidade.

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