Guilherme Scarpellini
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A 93º edição do Oscar enfim passou. E, com isso, os filmes da pior temporada de todos os tempos já podem descansar para sempre no meu esquecimento.
Tentei assistir a todas as obras indicadas e, com exceções de “Meu Pai” e “Druk”, nunca vi tanto filme ruim. Se pode piorar, como dizem os entusiastas da geração Netflix, cuidado com o spoiler: vai piorar — e muito.
Essa leva de indicações foi apenas uma amostra da decadência da mais nobre premiação do cinema. De acordo com as novas regras da Academia, a partir de 2024, a qualidade das obras não será o critério decisivo de avaliação. Mas, sim, a presença de representantes de minorias no elenco e na produção, bem como a abordagem de temas ligados a esses grupos.
Seria o mesmo que dizer a Salvador Dali que, daqui para frente, se ele quisesse vender suas obras, deveria retratar apenas as agruras das mulheres na Europa machista ou o sofrimento dos judeus na Europa racista. E que deixasse para lá essa história de relógios derretidos, elefantes com pernas de grilo e paisagens malucas — coisa de gente alienada.
Dali, como um bom artista subversivo que foi, afinaria as pontas do bigode e diria: aham.
Já nesta edição do Oscar, a maioria dos filmes, antenada aos clamores por mudanças sociais, trazia uma lição de moral ao fim, como nos episódios de He-man.
Um amigo bem definiu o fenômeno e disse que não aguentava mais esses filmes-palestrinhas.
Eu disse a ele que se esse papo de política ideológica poderia contaminar amizades, casamentos e até almoços de família, que dirá então das expressões populares. Vide a direita pregando o negacionismo e a esquerda promovendo a cultura do cancelamento. Duas burrices que se merecem.
Na última vez que fui ao cinema, a pandemia estava perto de estourar. Cheguei no Belas Artes para assistir a “O Espião e o Oficial”, de Roman Polanski, e, na bilheteria, fui interpelado por uma garota, que segurava um cartaz de protesto numa das mãos e um punhado de livros, na outra.
Ela tentou me convencer a não assistir ao filme do cineasta francês. Como é público e notório, Polanski foi condenado por estupro nos Estados Unidos, na década de 1970, e até hoje não pode voltar a pôr os pés lá, senão vai preso.
Olhei nos olhos da menina e disse: aham. Assisti a um dos últimos excelentes filmes da minha vida.
Mas eu bem poderia ter dito a ela que deixasse de ler os livros que segurava. Um deles poderia ter sido escrito por Aristóteles, Schopenhauer, Shakespeare, Pound, Genet, Bukowski ou Monteiro Lobato: escravagista, misógino, antissemita, fascista, bandido, bêbado e racista, respectivamente.
Deveria também ter alçado bem alto o meu cartaz. Nele, estaria escrito: por mais elefantes com pernas de grilo!