Quando eu tinha doze anos e estava na sexta série, houve uma moda em meu colégio de se fazer a lista classificatória da beleza das meninas. Os meninos da sala escreviam nosso nome numa folha de papel dispostos em coluna e, acima, numa linha, escreviam os seus. Em sequência, iam nos avaliando de zero a dez e sabíamos, pela linha, quem havia dado as notas.
Minha amiga Daniela Piroli tinha vários admiradores apaixonados por ela e lembro que ganhou uma infinidade de notas dez. Em meio a uma profusa sequência de zeros, ganhei um quatro de um menino chamado Alexandre. Acho que foi porque éramos meio amigos. O que sei é que, na época, ainda que pouco elogioso, receber aquele quatro me trouxe um grande alívio. Salvou minha dignidade ao evitar que eu perecesse no limbo da desaprovação absoluta… na opinião deles.
Hoje, estudando sobre a revolução feminina, lembro dessa história com um misto de sentimentos. Em parte, rio de tanta bobeira, mas na essência, não acho tão engraçado assim.
Esse tipo de prática não é só uma brincadeira de criança. Nossa sociedade ainda funciona dessa forma com as mulheres. Uma lista imaginária permeia nosso trabalho, nossas relações interpessoais, nossas escolhas de vida. Somos qualificadas pela métrica do senso comum infectado pelo machismo e por valores que muitas vezes, divergem dos nossos próprios. Somos fortemente julgadas por nossa aparência dentro de um suposto padrão e pelo tanto que parecemos adequadas às expectativas alheias.
E o pior de tudo é que, além de vivermos submetidas ao escrutínio dos avaliadores, muitas vezes acreditamos neles!
É importante sabermos, diferentemente de mim aos doze anos, que o julgamento alheio não diz necessariamente quem somos. Não determina o quanto somos adequadas, belas e principalmente, não diz nada sobre o nosso valor como ser humano.
Gostaria de ter aprendido isso antes. Gostaria de ter sabido que entre zeros e quatro, o que importa mesmo é a nota que dou a mim mesma. É o quanto me realizo diante da pessoa que desejo ser.
E que a opinião daqueles meninos tolos, digo, todos, sempre foi somente isso: apenas uma opinião.
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