Um fogo devora um outro fogo. Uma dor de angústia cura-se com outra.
William Shakespeare
–
Jonathan tropeçara em uma pedra enquanto andava apressado. Estava, involuntariamente, atrasado para um encontro com amigos. O alerta, que tinha programado para avisar em qual ponto de ônibus descer, travou e o avisou sobre sua parada muito depois.
Debaixo de uma chuva fina, muito diferente da tempestade da noite anterior, teve que refazer o seu caminho, agora a pé. Dava trotes distraídos, olhando para uma coisa ou outra que lhe chamava atenção, e, por vezes, trocando a música que se reproduzia nos seus fones de ouvido.
Seus olhos, procurando algo para se entreter, focaram-se em um homem sentado no passeio, na direção de onde estava indo. O jovem Jonathan fixou seu pensamento no senhor que, ao estalar os dedos, fazia chamas laranjas da cor do pecado – e Jonathan conhecia o pecado – dançarem sob suas unhas.
Ele não acreditou no que via. Um truque de mágica, talvez? Uma ilusão de ótica? Com certeza. Não era possível no mundo real, esse que vivemos, que uma pessoa pudesse fazer chamas arderem de forma tão majestosa ao juntar a ponta do indicador com o dedão.
Estava tão distraído em descobrir os segredos do homem que não percebeu que atravessava a rua enquanto o sinal para carros estava verde, e nem sentiu quando as rodas pesadas do 2740 – o mesmo ônibus que ele havia descido – passaram sobre o seu corpo macio feito de carne.
O que Jonathan não sabia, e o que podia apaziguar todas as perguntas na sua jovem – e agora morta – mente, é que o homem sentado no passeio tinha um isqueiro bic grudado na palma da mão esquerda, e o movimento que estava reproduzindo tinha sido aprendido ao longo dos anos da vida de um exímio fumante.
Também não sabia que o homem tinha roubado aquele isqueiro bic de um amigo que agora tateava desesperadamente o bolso da calça em busca de fogo.
O que Jonathan não sabia era que podia ter esperado o ônibus em que ele estava fazer a volta para descer no ponto pretendido, e que, sendo assim, agora estaria flertando despretensiosamente com o seu namorado envolta de amigos.
Pobre rapaz. Pouco sabia da vida. E o que sabia – é impossível fazer fogo com os dedos – duvidava.
*
Obs: O título “Jonathan, você já morreu” é uma homenagem ao conto “Foster, você já morreu” do autor Philip K. Dick, publicado no livro Sonhos Elétricos. Os contos – 10, ao todo – ganharam sua versão televisiva na plataforma Amazon Prime, em uma série de mesmo nome.
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