Ontem o Brasil bateu um novo recorde: 2841 mortes. Duas mil oitocentos e quarenta e uma vidas perdidas em um único dia. Para os estatísticos de plantão, isso significa uma morte a cada 30 segundos. Para os poetas, são constelações apagadas. Para os que ficam, uma dor e um luto a ser atravessado.
Em Minas Gerais, começamos hoje a surfar no mar das ondas roxas, nunca antes navegado. Já estávamos em distanciamento e agora estaremos em recolhimento obrigatório. A COVID-19 definitivamente não é uma doença respiratória, é mesmo a doença da solidão.
Estamos oficialmente há um ano em pandemia, o que lhe confere um caráter histórico. Outro dia, conversando com um amigo, escutei dele: “Na época da pandemia…”. Achei pitoresco, não porque a pandemia tenha passado (pelo menos não para alguns), mas porque isso revela uma pandemia a longo prazo.
No início de 2020, a vida era uma coisa e a pandemia era outra. Realidades estanques. Lembro que meu último evento social aglomerativo foi o sarau do Coral Horizontes, realizado no salão de festas da minha casa, no dia 15 de março de 2020. Foi um domingo muito agradável, de prosa, canto e poesia. Estávamos com muito medo e sabíamos muito pouco do que seria a tal pandemia.
A ideia era suspender a vida por uns 15 dias, um mês, talvez 40 dias, deixar a pandemia passar e depois voltar a viver. A ideia, pelo menos para mim, era de uma “suspensão” da vida enquanto as ondas, os picos e os platôs passassem por nós. Eu sobreviveria incólume e ingênua, obviamente.
Mas a verdade é que agora não tem mais essa separação de vida e pandemia. Vida e pandemia estão embutidas uma na outra. Imiscuiram-se. A pandemia se intrometeu permanentemente nas vidas, nos lares, nas relações, nos trabalhos. Ela virou um modo de vida.
Passamos a nos ver provisórios, a não fazer planos de longo prazo, a viver a vida de curto prazo, no momento presente, no aqui-agora. O futuro foi abreviado de inúmeras formas. Não, a pandemia não é uma ou várias ondas em que aprenderemos a surfar. Ela é um furacão que, sem autorização, envolveu nossas vidas, nos deixou perplexos, sem chão, roubou-nos amores. Retirou nossas certezas, expôs nossas vulnerabilidades. Temos que aceitar e saber viver essa vida precária e escassa do momento.
Fomos obrigados a encarar a morte e o medo dela, ao mesmo tempo em que resgatamos nossa urgência de vida. Tudo mudou de valor. A fome e a sede. O desejo de viver. O paladar, o olfato, o tato. Os sabores, os cheiros, o toque. Para que desperdiçar comida, água, afeto? Para que desperdiçar tempo com discussões estéreis? Para que ter, comprar, consumir se podemos experimentar, trocar, reciclar?
Como fazem falta gestos simples do cotidiano, que evidenciam a presença do outro: os abraços, a conversa olho no olho, o som real da voz, sem mediações tecnológicas. Como faz falta o conforto da respiração quente do outro, depois de um dia de trabalho.
Escrevo para você que, assim como eu, está em fadiga e sem energia pelas inúmeras exigências da vida pandêmica. Para você que está com saudade da vida livre e verdadeiramente compartilhada. Estamos quase lá. Não vamos desistir por agora. Por ora, vamos agradecer por termos chegado até aqui. Por estarmos com saúde, por termos teto, cama e comida.
E se pudermos ver um sentido, mínimo que seja, de estarmos passando por isso e vivendo todo esse absurdo, aí teremos sido verdadeiros heróis.
Silvia Ribeiro Então é dezembro. Hora de pegar a caderneta e fazer as contas. Será…
Mário Sérgio Todos os preparativos, naquele sábado, pareciam exigir mais concentração de esforço. Afinal, havia…
Rosangela Maluf Gostei sim, quando era ainda criança e a magia das festas natalinas me…
Tadeu Duarte tadeu.ufmg@gmail.com Com a proximidade do Natal e festas de fim de ano, já…
Peter Rossi Me pego, por curiosidade pura, pensando como as cores influenciam a nossa vida.…
Wander Aguiar Finalizando minha aventura pelo Caminho de Santiago, decidi parar em Luxemburgo antes de…