(Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher)
A urgência subjetiva reclamou a presença. Pediu calor humano, acolhimento, contenção. A necessidade de privacidade e de espaço físico (subjetivo) me fez ir ao encontro delas.
Formou-se ali um fértil campo de interlocução, afeto e segurança. Novamente, fui corpo, cheiro e tato no fazer do meu ofício.
Elas, que não se sentiam seguras nos seus próprios corpos, nem em suas próprias casas, sabiam que precisavam acessar suas raízes, ao mesmo tempo em que criavam asas. Iam em busca de paisagens desaparecidas, de revelar mistérios. Segredos tão recônditos, escondidos também de si mesmas. Frequentemente, a condição humana exige anestesias.
Quando criança, vestiam-se escondidas, de portas fechadas no banheiro, com o roupão da mãe só para sentir-lhes o cheiro. E o afeto impedido. E o cuidado negado. E o futuro bloqueado. A sombra da morte lhes rondava. Tentavam entender os desígnios do caos para si mesmas. O que o destino estava tentando mostrar? Peraí, existe mesmo um destino? O que é a existência? Eu existo? Nós existimos? Somos? Eu sou? Ou estou? Vou sendo?
Estavam prestes a descobrir que a vida é mesmo imponderável, que as coisas acontecem a despeito de seus próprios desejos. Simplesmente acontecem, na cadência que precisam acontecer. E o fato de não acontecerem de acordo com a vontade, não as tornam necessariamente ruins, apenas diferentes.
Elas, que se repetem e são também inéditas, múltiplas e que mudam a cor de seus olhos. Elas, que desafiam a linearidade do tempo, que se encantaram com a descoberta da palavra “serendipidade” e mais ainda com a potência dos descobrimentos feitos ao acaso, quando andam por aí desavisadas.
Elas, que trabalham enquanto os homens dormem. Elas, que carregam o peso de marés arrebentadas e de mares não navegados. Que são âncoras e borboletas. Que se apaixonam e também se nauseam com o excesso de amor. Elas que, por vezes, querem escapar do mundo, que ora lhes parece bom, ora doente em demasia.
São elas que cuidam, que conectam os fios rompidos da história. São elas que reparam as vidraças quebradas, os corações partidos e os sonhos perecíveis. São elas que trabalham solitárias, mas com a inequívoca certeza de serem coletivas e de ecoarem uma única e, ao mesmo tempo, múltipla voz.
Nós, que somos cuidado e perdão. Que somos força e ventre, origem de toda vida.
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Lindo texto. É muito intrigante constatar minha história nestas palavras.