O silêncio dos tambores

Foto: Reprodução/Redes Sociais
Sandra Belchiolina
sandra@arteyvida.com.br

O tambor é um instrumento musical de percussão utilizado por várias culturas. Sua origem é ancestral, eram construídos de troncos ocos de árvores e pele de animal, com as baquetas de madeira. No Brasil, os mais antigos são de origem indígena. Posteriormente, com a chegada dos escravos, estavam presentes nas festividades religiosas e na capoeira e o país tomou gosto por eles. Ele é tocado tanto na paz quanto na guerra, para conduzir a marcha dos soldados. Em 1808, no período colonial, há relatos do Padre Perereca que D. João VI utilizava esse caráter marcial do tambor para anunciar sua chegada e para sua saudação pública.¹

Possuem vários nomes e estilos: Tambor do Congo, Sabá Africano, o gigante japonês – bongô. O atabaque que é tocado na capoeira tem sua origem árabe, sendo introduzido na África por mercadores no passado remoto. Alfaia que é muito usado nos tambores de Minas Gerais. As escolas de samba utilizam também caixas, repiques, tamborins e cuícas.

Há também maneiras e estilos de como são acomodados para serem tocados. Os tambores de Minas são posicionados na lateral do corpo, os baianos e de escolas de samba normalmente na frente do corpo, alguns outros ficam alojados no chão. 

A batida do tambor é a mesma do coração. Seu ritmo revigorante é utilizado nas vivências da Biodanza, na linha da vitalidade como estímulo à potência do caminhar e de movimentos de “pisar a terra com firmeza” e outros que são catalisadores de força e vigor físico. Muitas ONGs brasileiras utilizam dessa magia musical para socialização e para dar um ofício a crianças e jovens de baixa renda. O Grupo Cultural Olodum, com sede em Salvador na Bahia, é um dos precursores e formadores de percussionistas.

Desde sempre fui encantada por esse som. Quando criança, acompanhei meu pai em vários reinados, congadas em Lagoa da Prata. Posteriormente pude representar uma Rainha do Congado, tocar no Tambor de Lotus – grupo constituído para apresentação da Festa da Cerejeira, no Centro Cultural da BSGI em São Paulo. Momento mágico onde os tambores de Minas, representados por nosso grupo, tocaram com um Grupo de Samba carioca. Fui uma deliciosa potência de som! Desde então, o que era um amor à distância virou paixão e acompanhei por vários anos a renovação do carnaval de Belo Horizonte e de seus grupos de tambores – seu expoente maior. Uma festa, uma magia e são milhares deles tocando por toda cidade. Gosto das baterias e é de perto que as acompanho. 

Esse ano foi de silêncio dos tambores! Carnaval é amor, mas desta vez o maior ato de amor é o silêncio da nossa bateria“. “Não vai ter carnaval, é esperar pela vacina e por um mundo cheio de esperança“, mensagem dos integrantes do Unidos do Samba Queixinho que faz solo com outros blocos.² O momento é de ficar em casa!

Então Brilha não brilhou, mas marcou sua presença na Avenida do Contorno com a faixa negra (luto) com letras douradas: “Gente é para brilhar”.

Assim, esperamos pacientemente o Carnaval de 2022 com mais e mais tambores nas ruas e muito brilho!

Referência

¹ https://musicabrasilis.org.br/instrumentos/tambor

² https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2021/02/13/videos-blocos-de-rua-de-bh-pedem-que-folioes-fiquem-em-casa-no-carnaval-e-evitem-aglomeracao.ghtml

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