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Rocky Vs. Touro Indomável

Robert De Niro em “Touro Indomável”, 1980 (Divulgação/Warner Bros.)
Guilherme Scarpellini
scarpellini.gui@gmail.com

Ladies and gentlemen, desliguem o BBB. Vai começar a luta do século. De um lado, o garanhão italiano, “Rocky” (1976). Ele acorda às quatro da madruga, manda quatro ovos crus para dentro, calça o seu tênis All Star de cano alto e sobe correndo os degraus da escada do Museu de Arte de Filadélfia ao som de “Gonna Fly Now” — e depois volta para casa fumando um cigarro.

De outro lado, o “Touro Indomável” (1980), Jake LaMotta. Ele é rápido como um relâmpago e forte como um trovão. A sua mão direita, quando encontra o nariz do adversário, não faz menos estrago do que uma marreta. E só para de bater ao soar do gongo: pim! pim! pim!. Mas, dentro de casa, tomado por crises de ciúme, não termina antes de levar a sua mulher ao nocaute.

Balboa (Sylvester Stallone) e LaMotta (Robert De Niro). Dois anti-heróis, marcados por dores, fraquezas e tristezas — e alguma vadiagem. Mais erram do que acertam. Descontam os erros enchendo copos e comemoram os acertos esvaziando garrafas.

Mas Balboa ao menos saber tratar bem uma mulher. Ele fuma e bebe cerveja, mas treina em um frigorífico, distribuindo jabs e ganchos em peças de carnes sangrentas. E, mais corpulento, facilmente quebraria uma costela de Jake LaMotta no primeiro round.

Mas, calma aí: LaMotta não é qualquer um. É nada menos que Robert De Niro, jovem, cheio de energia e brilhando com um astro no céu de Hollywood. Além disso, “Touro Indomável” tem o dedo e o resto da mão inteira de Martin Scorsese, em um dos momentos mais críticos — porém, brilhantes — de sua carreira: o diretor saiu de uma clínica de desintoxicação e foi direto para o set de filmagem. Cocaína. Estamos falando de anti-heróis.

É meritório que o roteiro de “Rocky” tenha sido escrito pelo próprio Stallone, o que certamente custaria os dois dentes da frente de LaMotta.

Mas as atuações em “Touro Indomável” são esplêndidas e a fotografia, deslumbrante. Eu emolduraria a cena das cordas do ringue pingando sangue ao fim da luta entre LaMotta e Sugar Ray Robinson — mesmo sabendo que o sangue era, em verdade, barras de chocolates Hershey’s derretidas. Foi a alternativa mais convincente que Scorsese encontrou quando se filma uma luta de boxe em preto e branco.

Assisti aos dois filmões para fechar a semana de uma só sentada no sofá. “Rocky”, na Netflix. E, “Touro Indomável”, no Stremio. Um banquete de cinema. Mas entretenimento é como comer à la carte: cada um escolhe o que quer.

Um amigo escreveu no Twitter que é injusto dizer que quem assiste a BBB é menos inteligente do que os outros. Concordo: nem todos que consomem junk food são gordos ou terão as coronárias entupidas. Mas eu garanto: assistir a dois clássicos desses, em vez perder tempo com baixaria na tevê, serve para queimar gordurinhas do cérebro. No fim da luta, quem ganha é você.

Martin Scorsese dirigindo cena de “Touro Indomável”, 1980 (Reprodução/IMDb)
Guilherme Scarpellini

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Tags: Boxecinema

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