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A chegada do pai

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Sandra Belchiolina
sandra@arteyvida.com.br

Era uma manhã primaveril do mês de outubro do sofrido ano de 2020. Contudo, a vida continuava, e entre idas e vindas de pais havia grandes momentos de encontros com seus filhos. Fui testemunha de um deles.

Era também uma manhã com aquele solzinho gostoso em que você o recebe com gratidão no rosto. Eu já estava no rumo de minha casa após minha caminhada matinal quando escuto uma buzina de caminhão há uma distância de dois quarteirões. O som era diferente e coloquei meus ouvidos a espreita. Segunda chamada, pommooomm, poommomm. Pensei: é um pai chegando. Não tinha muita lógica no pensamento porque eram nove horas da manhã. Mas já avistava à distância um veículo branco.

Terceira buzinada – poommmomm, poommomm, poommomm. Não tinha dúvidas mais: era um pai chegando de viagem.

Já na minha mira o caminhão, busco os filhos. Lá estavam – uma menina de no máximo dois anos no colo da avó e um menino de uns dez anos. Aproximando, escutei a menina que gritava e pulava no colo: papai, papai! O menino do lado sério, talvez envergonhado ou não sabendo se manifestar diante daquele pai. Emocionei-me com eles.

Passando pela cena, observei a acolhida que esses filhos davam ao progenitor que criara um ritual para sua chegada. Ele era bonito e jovem, com menos de quarenta anos.

Ao longe tentei identificar o que poderia transportar. Estava em minha cidade natal, Lagoa da Prata. Vindo de lá, um caminhão de carga poderia trazer cana-de-açúcar, leites, manteigas, caramelos da Embaré; podendo ser mercadorias destinadas aos oceanos e dali redistribuídas pelo Brasil. Ou produtos farmacêuticos que serão transportados de bicicleta.

Enfim, há uma variedade na indústria e comércio local.  Aproximando, pude ver que estava somente com o cavalo do caminhão e que era um modelo baú. Sendo assim, já elimino algumas hipóteses e faço minha aposta que não conto por aqui.

Que sorte a das crianças que possuem um pai festeiro e que proporciona para o mundo infantil à fantasia.

Deixo essa homenagem ao meu pai que soube criar esse mundo e acolher-me com afeto:

“O pai não morre,
ele corre na frente
pra levantar o segredo do véu
e guardar pra gente
o lugar mais estrelado do céu.” 

Ivone Boechat

*

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