Antes de tudo, antes dos oceanos serem cruzados, locais explorados e doenças espalhadas, éramos grandes. As navegações transoceânicas diminuíram o infinito à meia dúzia de continentes em uma terra sem borda.
Era comum o pensamento de que, se os seus barquinhos de papel fossem longe demais em águas desconhecidas, eles cairiam em um vazio eterno, sem a possibilidade de voltar para a varíola. Não caíram, mas de algum modo, trouxeram o vácuo – e a coqueluche – por onde passaram.
Não me lembro quando foi, mas de um dia para outro, o termo “América” passou a significar apenas uma pequena – minúscula, na verdade – parte do continente. E assim foi indo. Com históricos de dominação diferentes – por um lado, um grupo de capitães, dons e desbravadores sustentados por coroas desesperadas; por outro civis obstinados a trazer o velho mundo para cá, só que em arco-íris – fomos inundados por corpos estranhos que hoje nada mais fazem do que se colocar contra o mea culpa alheio.
Fato é: os ventos do Norte sopram cada vez mais frios por aqui. E por mais que os seus feitos em plástico – trazidos em navios cargueiros que só podem imaginar o tamanho os olhos que uma vez os viram – estejam cada vez mais presentes em todos os lugares, nunca fomos tão distantes. Mas não é como se isso fizesse alguma diferença.
Eu, ao longo da minha breve existência, sempre carreguei um quê de ceticismo. Nunca consegui, de fato, me conectar com o celestial. E olha que eu tentei. Então, dizer que tudo o que vem de cima é divino sempre foi um pouco demais para mim. Principalmente nesses dias, em que somos obrigados a ouvir, em horário nobre, sobre as ações etéreas do Deus em louro.
Suas palavras, ditas em 140 caracteres, dispensadas ao mundo em um mensageiro azul, trazem luz a uma geração abatida e sem esperança. Por sorte, após a sua morte, seu corpo será canonizado e exibido no alto da sua torre de ouro na nossa Nova Roma. Dizem que as escrituras são palavras vivas. Sobre o passado, não sei, mas o terceiro testamento com certeza o é, e parece estar acontecendo agora.
Mas como todos os Messias do século XXI são escolhidos e cancelados em tempo recorde, eu tenho esperança. Nesta semana, quase 600 anos após barcos ingleses de madeira velha atracarem na costa – não – americana, os filhos rebelados da rainha terão a oportunidade de fazer a América grande de novo. E essa é ou não é a melhor notícia do ano?
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