Tais Civitarese
Dentre as esquisitices que a proximidade dos 40 anos me permite ter, está não gostar de telefone.
Não gosto, realmente, de falar ao telefone. A verdade é não gosto muito de falar. Gosto de ficar em silêncio ou de, no máximo, e quando necessário, escrever.
Assim, me cerco dos falantes e sigo tranquila a minha vida (muito, muito de vez em quando, anseio por pequenos momentos de completa solidão e silêncio – no ambiente urbano, é claro).
Porém, no caso do telefone em especial, creio que a história tenha uma certa origem.
Quando pequena, via papai muito bravo ao receber algumas ligações. Ele ficava furioso e desligava rápido, quase na cara da pessoa do outro lado. Eu chegava a sentir pena de seus interlocutores. Não demorou muito para eu entender o motivo.
Ao tornar-me grandinha, passei a atender os telefonemas do aparelho fixo de casa. E foi aí que numa mesma semana, contratei um cartão de crédito e um curso de inglês com duração de seis meses. Ao me dar conta de que eu já cursava inglês e que não tinha nem conta bancária para usar nenhum cartão, percebi que algo estava errado.
E entendi que o telefone pode ser como uma teia de aranha. Só que eu não sou mosquito! Fiquei rata e passei a prestar mais atenção…
Hoje, com o celular, criei uma cisma de nunca atender a um número desconhecido. Mas e se for alguém para avisar que você ganhou na loteria? Eu não jogo. E se for para informar sobre um problema, um acidente? Me encontrarão de outra maneira. Minha curiosidade, medo ou qualquer outra coisa não são maiores do que o desejo de permanecer em paz, de evitar a amolação pelo risco de receber ligações corporativas ou do que a lógica muito simples de que, sendo o número do whatsapp o mesmo, se for algo importante, me enviarão uma mensagem.
Durante as férias, me ligaram dezoito vezes de um mesmo lugar. Não atendi nenhuma. Por fim, bloqueei o número. Meu marido quase se coça, intrigado: “Atenda! Pergunte ao menos quem é!” E eu lhe digo: Jamais. Não quero nem mesmo algo bom com alguém que me liga dezoito vezes nas férias.
Concluí que, em grande ou pequena escala, a paz que almejamos é construída nas coisas minúsculas. Se não quero conversar, é bem simples: basta não atender. O preço é abrir mão da curiosidade, dos medos e até de um pouquinho do desejo de importância.
Para mim, vale a pena perto do sossego de não ter que explicar 90 vezes que não quero alguma coisa ou de ter uns minutos roubados do almoço ou de uma tarde com uma amiga.
Ainda bem que existe a escrita – sempre ela! – para salvar os amores, os anseios e as amizades.