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“Por que odiamos?”

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Victória Farias

“Incapazes de suportar a morte, a miséria e a ignorância, os homens, para serem felizes, concordaram em não pensar no assunto.”
– Pascal

Poucas coisas na vida se tornaram mais atormentadoras do que ler a seção de comentários nas redes sociais dos sites de notícias. É como entrar em um mundo totalmente novo. Sem lei, sem ordem; um espectro do universo totalmente separado e desassociado da realidade. 

E lá você encontra de tudo. Discurso de ódio que termina com “é assim que eu penso”; pessoas defendendo Deus sabe o quê; e gente que não sabe o que está fazendo ali, e, ao invés de ajudarem, acabam fomentando uma discussão totalmente infundada e sem sentido. 

Passeando por um desses campos de opiniões – coisa que me privo de fazer na maioria das vezes – se tornou mais forte na minha cabeça uma pergunta – embora ela já venha me perseguindo há algum tempo – : por que odiamos? 

Por que uma notícia de uma coisa “banal” nos desperta um sentimento considerado tão primitivo? Tão forte? Por que poucas palavras ou até mesmo colocações não tão claras podem nos levar a proferir contra o outro ideais tão ríspidas e ameaças a violência e a integridade física? 

Levada por essa pergunta, fui assistir a uma série indicada pela psicóloga Daniela Piroli Cabral, depois de tantas indagações à psicologia feitas em meus posts. O documentário de nome “Por que Odiamos?” realizado pela Discovery Channel e idealizado por Steven Spielberg, jogou uma pá de cal no meu sentimento de redenção individual pela humanidade. Explico.

Basicamente, odiamos porque sentimos. Sentimos pertencimento pelos nossos, sentimos que podemos ser atacados a todo momento e precisamos nos defender; odiamos porque acreditamos que não conhecemos o mundo lá fora, pintado como perigoso demais, grandes demais, inumano demais. 

Mas, além disso, odiamos porque não sentimos. Não sentimos empatia pelo outro, pelo desconhecido, por aquele que entra em outro país não porque quer, mas porque não tem para onde ir. Acredite, ninguém tem como propósito de vida pular em mar aberto apenas com uma boia salva-vidas, para encontrar portões fechados do outro lado. 

Acredite mais ainda, se nossos vizinhos do oeste tivessem para onde ir, sem dúvida não viriam para o Brasil. No fim das contas, odiamos porque achamos que conhecemos o mundo lá fora, pintado como colorido demais, pequeno demais, humano demais. 

Odiamos porque em todas as representações, pensamos pertencer a uma estrutura de vítima e agressor, sempre esperando qualquer faísca, palavra ou provocação. E, entende-se que, na “condição de vítima e que, enquanto vítima, sujeito a ser ressarcido de algo que perdeu, o que acredita ter perdido, seja respeito, segurança, ou bens materiais.¹” Assim, como vítima, nos fechamos com os nossos. Até porque, não dá para se travar uma guerra de um para um. Mas, não é como se ninguém tivesse tentado antes.

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