Na minha rotina diária, acordo e ligo o celular, vejo as mensagens e o post do Blog Mirante do dia. Nisso, no celular, aparecem as atualizações do Facebook e Instagram.
Nesta terça-feira, 14 de julho, não estavam anunciando nada sobre a Revolução Francesa, mas sim sobre outro tipo de rebeldia; vejo no primeiro post, letras grandes: “EMA NÃO É GADO”. Pensei: gado é uma metáfora utilizada por muitos (70%), para definir pessoas que são conduzidas por um líder a ermo, sem questionar nada, apenas aceitando o que lhes é imposto – uma verdade absoluta. Assim sendo, onde entrava a ema? Rolando a tela do celular um pouco mais, entendi o ocorrido. O presidente havia sido picado pela ave enquanto tomava seu banho de sol no Palácio da Alvorada no dia anterior.
Ironicamente, coisa que o brasileiro sabe fazer muito bem, ainda pela manhã, circulava nas mídias: a naja e a ema como tema para os aplicativos: Animais Antifacista, a Ema com boné de Fidel Castro e muitas referência a ema e a naja. Ainda li: o cavalo avisou – esse referindo-se ao cavalo do Dragão da Independência que estava à frente do cortejo presidencial na posse de Jair Bolsonaro e não aceitava o controle do cavaleiro.
Veio-me o tema para escrever para o blog – revolução dos bichos. Acabara de ler na crônica de Contardo Calligaris: A cavalo e sem máscara, Bolsonaro avança para triunfo, o triunfo da morte. Ele descreve a foto que segue: “É difícil não notar a imperícia de Bolsonaro: ele está com a careta de limão azedo de quem não consegue deslizar naturalmente na sela e, pior para a boca do cavalo, está com ambos os cotovelos bem abertos, como se precisasse se equilibrar” [¹]. Eu diria que ele está puxando muito a rédea e machucando o cavalo, visto a cara do mesmo. Também, tem o cachorro que não gostou de ser Augusto, pois ele era nada mais nada menos do que Zeus. E assim a bicharada se manifesta metaforicamente.
Pronto, tema escolhido: Revolução do Bichos. Para minha surpresa, vejo em outro post de uma amiga, uma montagem onde aparece a naja lendo o livro de George Orwell com o mesmo título. Não conhecia a fábula de Orwell e fui informar-me, pois seu outro livro distópico, “1984”, foi um marco na minha adolescência. Não pude deixar de associar o pensamento central de Orwell com nossa realidade. Nesse, o autor desenvolve a ideia principal de que se abrirmos mão da liberdade, mesmo que com boas intenções, isso pode resultar em tirania. Liberdades essas que são: de expressão, de ir e vir, das escolhas e suas perdas entram em choque com os desejos humanos.
George Orwell (1903-1950), escritor, ensaísta e jornalista. Nascido na Índia e educado na Inglaterra. “A Revolução dos Bichos” e “1984” foram suas duas últimas obras. “1984” foi o escrito que inspirou o programa de TV Big Brother (personagem do livro que deve ser amado) –. Nele se descreve um povo vigiado e controlado. Há quem defenda que já vivemos essa realidade com nossa exposição nas mídias e com nossas câmaras ligadas. Realidade denunciada por Edward Snowden.
Em “1984” vemos a inversão da realidade, desqualificação do pensamento, redução da linguagem, da comunicação binária. No diz e contradiz, criando outra realidade e mudando a história. Fato que impossibilita e confunde as pessoas impedindo um discernimento próprio. Também não há incentivo aos afetos harmoniosos; relação de homem e mulher somente para procriar.
Buscando sobre a Revolução dos Bichos de Orwell encontrei que é uma fábula sobre o poder. “Narra a insurreição dos animais de uma granja contra seus donos. Progressivamente, porém, a revolução degenera numa tirania ainda mais opressiva que a dos humanos. Escrita em plena Segunda Guerra Mundial e publicada em 1945 depois de ter sido rejeitada por várias editoras, essa pequena narrativa causou desconforto ao satirizar ferozmente a ditadura stalinista numa época em que os soviéticos ainda eram aliados do Ocidente na luta contra o eixo nazifascista.”[²]
Orwell está para além da esquerda, conforme Profa. Mayumi Llari em entrevista para a Univesp TV [³]. Foi muito lido nos EUA por criticar a ditadura stalinista. Segundo a professora, ele consegue desagradar a esquerda e a direita. Ele faz crítica a todos os regimes totalitários e o controle dos estados na privacidade das pessoas. Vale muito a pena ver a entrevista.
Voltando a nossa revolução dos bichos. O que está acontecendo nas nossas vidas? Qual liberdade há hoje para escolhas sem uma ditadura de governos, mercados e/ou modismos, ou mesmo a sua ameaça? O que estamos fazendo com nossa privacidade? Desejo que não sejamos uma boiada! Alguns bichos, aqui no Brasil, já dão o seus recados. A naja já denunciou muitas irregularidades e com seu movimento, alguns infratores devolveram ao zoológico de Brasília outras vinte e seis víboras.
[²] https://www3.livrariacultura.com.br/a-revolucao-dos-bichos-1831877/p
[³] https://www.youtube.com/watch?v=VL-sjRG4aC0
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