Taís Civitarese

Tem-se proliferado um certo tipo de chatice. Uma chatice necessária. Ela policia nossos discursos e retifica falas outrora bem aceitas, porém, hoje, consideradas agressivas e desrespeitosas. Ela borrifa álcool 70% em jargões clássicos da nossa cultura, mas que nos dias atuais beiram ou cruzam os limites do crime. Pode parecer chatice. Mas é um começo.

Quando eu era criança, um amigo de meu pai não podia me ver que dizia que eu era sua namorada. Tinha horror a isso. O fulano chegava e eu logo ia me esconder. Quando não podia fazê-lo, tinha que exibir meu constrangimento na bandeja em troca dos risos de todos os presentes. Se fosse hoje, para meu alívio, alguém lhe diria em alguma rede social: esse tipo de brincadeira não cabe fazer com uma criança de 5 anos.

Uma vez, caminhando na avenida Agulhas Negras, uns meninos gritaram obscenidades para mim de dentro de um ônibus. Irritada, mostrei-lhes o dedo do meio. E só serviu para a baixaria se intensificar ainda mais. Na época, fiquei com vergonha de ambas as atitudes e fiquei pensando se deveria ter ficado quieta. Hoje, tenho certeza que não.

Um colega de escola tinha a pele preta. Seu apelido era “Tiziu”.  Muitos anos depois, soube que esse nome vinha de um passarinho que tem a penugem negra. Creio que hoje, a atitude seria diferente. Se não das crianças, dos diversos adultos que o ouviam calados ser chamado assim.

Ao longo de muitos anos, viemos performando uma sequência nos trapézios do preconceito, da discriminação e, por que não dizer, da ignorância. Saltando de um para o outro sem refletir ou questionar. Até que chegou um fulano que reuniu todas as piores agruras, sintetizou-as e normalizou em si um conjunto de falas torpes. Aquilo assustou-nos tanto que não deu mais para fugir ou fingir. É assim que queremos ser? Isso nos representa? Já fomos exatamente assim enquanto sociedade. Ele não veio de outro planeta. Mas faz tempo que não queremos ser mais…

Diante do horror, temos uma opção. Ele sinaliza: não fale como eu falo. Não pinte como eu pinto. Não vá por aqui. E por muito, muito tempo, uma direção (ainda que contrária) foi tudo o que precisamos.

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Tais Civitarese

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  • Olá parabéns pelo seu post bem explicado e tomei a liberdade de compartilhar com meus contatos esse tipo de artigo tem me ajudado bastante, vou começar acompanhar seu blog.

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