Que há uma tensão constante entre o princípio do prazer e o princípio da realidade a gente sempre soube. Freud explicou brilhantemente sobre a operação dessa briga implícita na nossa psiquê. O que a gente não esperava é que o princípio da realidade se impusesse de tal forma e por tanto tempo, obrigando-nos a adiar nossas satisfações, projetos e sonhos.
E hoje, no contexto de pandemia da Covid-19, a presença ubíqua deste princípio se materializa no uso das máscaras. Sim, as máscaras de proteção individual transformaram a imagem estereotipada do doente imunossuprimido em nossas próprias identidades. Hoje o uso das máscaras nos torna iguais em nossa condição de vulnerabilidade. Somos a imagem um do outro. E os olhos, única porção facial da nossa individualidade, nunca revelaram tanto.
Hoje, frente a imperiosa e até pouco tempo desconhecida “etiqueta respiratória”, o uso da máscara se impõe como etiqueta do cuidado, individual e coletivo. Mesmo que alguns ainda as rejeitem, hoje elas se tornaram itens de primeira necessidade de um guarda roupa, quase ou mais importante que as peças íntimas.
Elas têm diversos modelos, e o design fica a critério e a gosto do freguês. De vários tecidos que vão do TNT ao algodão, passando por elastano e até o bom e velho “perfex”, elas realmente se tornaram a peça da moda. Tanto que podem ter um apelo mais estético ou uma “pegada” mais funcional. Elas podem ser fixadas atrás da cabeça ou junto às orelhas com o ajuste de elásticos ou amarração de laço de fita. Quando usadas junto com aos óculos de grau, podem provocar acidentes, já que o vapor tende a embaçar as lentes. Tenho sofrido deste mal. Deste e o de usar batom desnecessariamente. Quando combinadas com óculos de sol ou com moletom de capuz, as máscaras nos tornam irreconhecíveis. Usar máscara junto com fones de ouvido é confusão na certa, um deles sempre acaba indo ao chão. Daqui a pouco, tenho certeza, teremos dispositivos que acoplem essas funcionalidades num único objeto.
As máscaras podem ser descartáveis ou laváveis. Podem ser profissionais, com filtro embutido. Podem ser lisas, listradas ou estampadas. Coloridas ou do time de futebol preferido. Podem vir com mensagens de paz ou com sorriso embutido para casos de necessidade e de absurdo. Podem ser estilo saruel (bem folgadinhas), skinny (bem justinhas) até saint-tropez (abaixo do nariz). Só não recomendo o modelo tomara-que-caia.
Há um tempo, quando trabalhei numa grande instituição bancária, o programa de qualidade de vida pedia aos trabalhadores que classificassem o seu humor cotidiano com o uso de um “termômetro” semelhante a um sinal de trânsito, afixado no computador de cada um. A cara do bom-humor (com sorriso para cima) era verde, a cara da neutralidade (com sorriso reto) era alaranjada e cara do mal-humor (com sorriso para baixo) era vermelha. Daí a gente já sabia se aquele dia era dia de conversar com o colega ou com o chefe.
Fico imaginando hoje como seria isso nos dias atuais. Cada trabalhador receberia seu kit composto por três máscaras laváveis e escolheria cuidadosamente seu humor do dia para ir trabalhar. Só nunca saberíamos se a cor da máscara escolhida revelaria verdade, pois por trás da máscara sorridente, poderia haver tristeza ou medo, ou por trás da máscara vermelha poderia haver necessidade de silêncio.
Mas, independente do caso, estaria operando ali o princípio de realidade.
Referência:
– FREUD, S. (1920). Mais além do princípio do prazer. Obras completas, volume 14, Companhia das letras.
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Sobre as lentes dos óculos. Dica!
Passe sabonete, preferencialmente seco, nas duas lentes. Partes internas e externas, vale dizer nas quatro superfícies.
Em seguida, com um pedacinho de papel higiênico (guardanapo, papel toalha), passe nas lentes. Como se estivesse fazendo um procedimento de limpar lentes.
Funciona e não embaça.
Experimente!
Oi, Eduardo.
Fiz isso ontem e funcionou super bem!
Valeu a dica!