Sandra Belchiolina
sandra@arteyvida.com.br

Era uma vez um reino que se chamava Planeta Terra. Ali viviam muitos seres vivos. Entre eles, há um predador que se denominava Ser Humano. Esse se considerava senhor da natureza e dizia que conseguia dominá-la. Até que… Um dia, outro ser primitivo apareceu. Dizem que é uma mutação, são os tais coroados. Ele deveria ser insignificante, mesmo portando uma coroa. Contudo, passou fazendo uma devastação em toda superfície da Terra. Novos significantes foram produzidos para elaboração de tamanha destruição. Ou, talvez re-significar a própria existência em coabitação com outras.

Diante dessas novas reflexões e como escritora para Blog Mirante do Uai do Estado de Minas, vou uaiziar hoje. Convidei nada menos do que nossos ilustres mineiros: Carlos Drummond de Andrade e Guimarães Rosa para dar contornos a nossa realidade. Quem sabe com a poesia podemos simbolizar melhor esse real grotesco?

Drummond puxa conversa:

“No meio do caminho tinha uma pedra 

Tinha uma pedra no meio do caminho

Tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra…”

E haja digestão para tantas pedras!

Guimarães, menos taciturno, esclarece: “o real não está na saída nem na chegada, ele se dispõe para gente é no meio da travessia.”

Drummond: essa travessia está demorando e estamos ficando sem eira nem beira. E lembra que na terra de mito é assim: “Era Lei, era decreto, era folclore, fosse lá o que fosse, o fato é que naquele reino o Rei, a Rainha e os Príncipes não defecavam. E ninguém podia duvidar do fenômeno, sob pena de ser enforcado. Mas um dia surgiu nesse reino o poeta contestando o direito de que ele também não defecava. Direito até então da família real. Ele explica que quando come, a comida transforma em poesia. Engoliu um pedaço de pão e começou a compor o soneto. O Rei indignado comeu três biscoitos e de sua boca não fluía nenhum verso. “Sua Majestade teve de sair correndo em direção ao banheiro”.

Guimarães: “Amigo, para mim é só isto: é a pessoa com que a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado.” E, “o mais importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, mas que elas vão sempre mudando”.

Drummond e seu jeitão responde: 

“Pouco importa venha a velhice que é a velhice?

Teus ombros suportam o mundo

E ele não pesa mais que a mão de uma criança.

As guerras, as fomes, as discussões dentro dos 

Edifícios

Provam apenas que a vida prossegue

E nem todos se libertaram ainda.

Alguns, achando bárbaro o espetáculo

prefeririam (os delicados) morrer.

Chegou um tempo em que não adianta morrer.

Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.

A vida apenas, sem mistificação.”

Guimarães:O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que a vida quer da gente é coragem.”

*

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