Victória Farias
Não sei vocês, mas, geralmente, nos finais de ano, me bate uma coragem seguida de uma vontade de fazer algo novo. Talvez por ter reprimido esse desejo por tanto tempo, esse ano ele veio mais forte.
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Estava eu na fila da lanchonete olhando despretensiosamente o cardápio. Eu não estava com fome, mas sentia que precisava comer algo.
O dia tinha sido longo, com as horas se arrastando em um profundo suplício em querer manter o sol a pino por mais alguns minutos.
Os carros passavam por mim um pouco rápido demais para um sábado (ou seria uma terça-feira?). Não sei precisar.
Todos esses finais de dias são compostos por papais noéis e luzinhas piscando. Eles parecem os mesmos.
E foi aí que eu senti um ímpeto: eu preciso fazer alguma coisa diferente.
Comecei, agora desesperadamente, a olhar passagens aéreas para Salvador. Não importava a data ou se estaria chovendo ou não.
A cidade redentora parece acolher os perdidos na queima de fogos, então é para lá que eu vou – pensei.
Depois de achar uma passagem em conta e em um horário atraente, fui perguntar para a minha mãe. – Os meus 22 anos só me permitem escolher se eu quero café com ou sem chantilly.
Depois do aval dela (não que eu precisasse) – obrigada, mãe – disse. Comprei a passagem em um afobamento quase arrebatador. Eu faria algo diferente a final.
Mais diferente do que eu tinha planejado. Na ânsia, não percebi que tinha comprado com os horários errados, e optado por uma escala indevida na capital carioca. Tarde demais, ponderei.
Depois do susto, comecei a organizar as coisas para a minha partida. Tentei entrar em contato com parentes que poderiam me receber por alguns dias – mudo.
Talvez se eu ligasse para Marte, seria maior a chance de obter uma resposta.
Então, tive que partir para outras providências. Aluguei um quarto no Airbnb (que depois foi cancelado pelo hospedeiro), aluguei outro quarto no Airbnb, comprei uma passagem só de ida para Recife e depois pedi folga no trabalho – nessa ordem.
Para todos que perguntam, digo que me propus a uma aventura, sem me preocupar para onde ela vai me levar.
O que me preocupa, de fato, é o meu cartão de crédito. Tenho certeza que a vertigem da subida do avião não me dará tanto mal estar comparado a quando a fatura chegar.
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Per aspera ad astra – por tortuosos caminhos rumo às estrelas.