Foto: E se eu morrer? – Pixabay
Daniela Piroli Cabral
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Estamos vivendo num contexto de vidas atravessadas pelo uso de tecnologias e indelevelmente marcadas pelas consequências delas em nosso cotidiano.

Por outro lado, estamos vivendo ao mesmo tempo em que tentamos entender as rápidas e constantes transformações pelas quais passamos, individualmente e socialmente.

Os fenômenos relacionados à tecnologia e a virtualidade são recentes, de 15 ou 20 anos para cá.

Eles não faziam parte do cotidiano da maioria das pessoas e se restringiam a campos muito específicos, universidades e centros de pesquisas, até bem pouco tempo atrás.

Outro dia, estava navegando no Facebook, quando vi no perfil de um amigo, um perfil “morto”. Sim, tratava-se de um amigo que havia falecido no real e cujo perfil continuava vivo no virtual. Na verdade, o perfil tinha sido transformado em um “memorial”.

Sim, esta é uma opção que a rede social te oferece. Quando você morre, o seu perfil pode ser removido ou ser transformado em um “memorial”.

Para tanto, basta você indicar um “contato herdeiro” que se incumba de tomar as decisões póstumas.

Fiquei intrigada. Além de me recordar do episódio da série Black Mirror chamado “Volto Já”, no qual a esposa consegue “ressuscitar” o falecido marido utilizando os dados existentes nas redes sociais, e fui pesquisar um pouco a respeito das “mortes virtuais”. Acho que eu mesma morri umas três vezes. Quer dizer, acho que me suicidei. 

Segundo informações do próprio Mark Zuckerberg, no ano de 2069 (nossa, não sei por que me sinto meio alienígena ao digitar esta data), o Facebook terá mais gente morta do que viva.

Ou seja, teremos verdadeiros cemitérios virtuais, uma revolução no Dia de Finados, evitando a superlotação dos cemitérios e o hiper inflacionamento das flores em tal data. Poderíamos, por exemplo, fazer uma visita ao túmulo pelo smartphone e mandar flores em forma de emojis

Ou, pelo contrário, talvez encontraremos a nossa tão sonhada imortalidade, mesmo após a nossa passagem por este mundo, pois manteremos a nossa capacidade de “existir”, de interagir e de “assombrar”.

Fiquei me questionando também sobre os impactos no processo de luto que “mantém o defunto vivo”, ainda que virtualmente.

Alguém já deve estar pesquisando a respeito, pois é inegável que não há mais uma separação clara entre o “mundo real” e o “mundo virtual”.

Os fenômenos virtuais devem ser compreendidos como parte integrante e indissociável dos processos de subjetivação relacionados à morte e à perda.

E, na verdade, a estruturação da pergunta do título deveria ser: “e quando eu morrer?”. Porque a morte em si, não é uma possibilidade, mas a grande certeza da vida.

Excetuando na literatura, quando a morte às vezes resolve fazer greve, ou no cinema, quando ela nos oferece alguma oportunidade de barganha com o tempo, quando chega a hora é pá, pum. Fim. Acabou-se.

Taí a recente e improvável morte do Gugu Liberato para escancarar essa verdade na nossa cara.

E eu, por via das dúvidas, já vou lá indicar um contato herdeiro que solicite a remoção do meu perfil tão logo faça a “passagem”, pois ainda continuo preferindo a provisoriedade e a impermanência. Alguém quer ser o meu herdeiro?

Para saber e se divertir mais:
Daniela Piroli Cabral

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