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A preocupante onda e crescimento da intolerância e do ódio

Eduardo de Ávila

Temos assistido, em tempos recentes, a proliferação do radicalismo entre as pessoas. Inicialmente pela opção partidária e política, esse sentimento de confronto vem avançando e passa pelo futebol (paixão de 11 em cada 10 brasileiros), atingindo até mesmo preferências de grupos ou individuais.

Não bastasse o desrespeito por não aceitar as opções e maneiras de terceiros, alguns poucos se acham na condição de julgadores e – via de regra – se arvoram em aplicar sanções que imaginam ter poder para a aplicabilidade. Me lembro de um fato, que ocorreu comigo e não por ouvir dizer, no segundo turno das eleições do ano passado.

Não sou doutrinado por nenhum dos dois lados que se combatem e, naquele momento, tive uma opção para o governo de Minas e outra divergente dessa para a presidência.

Por minha conta, fiz um adesivo com os dois nomes, em cores distintas daquelas de cada campanha.

Pois, acreditem, passando pela região da Savassi tomei uma bronca de um cidadão no carro ao lado. Eu tinha na ocasião uma Spin, carro até um pouco maior, mas o veículo do sujeito que me passava pito era ainda maior. Parece que ele entendeu que o tamanho do carro lhe conferia tais poderes.

Por pouco – travestido de autoridade pelo seu carrão -, determinava que eu retirasse aquele absurdo adesivo (filho único) por não concordar com minhas opções. No caso, ele condenava as duas. Mas, meus candidatos – ambos – não passaram no exame do primeiro turno.

Passados já mais de um ano disso, sigo – preocupado – presenciando atitudes dessa natureza. Diga-se, dos dois lados em conflito.

Não tem bonzinho nessa brincadeira de mau gosto, embora até reconheça que vem mais de um setor emergente. Antigamente, nos meus tempos de juventude, era ariscado e perigoso assumir ser de esquerda e ninguém admitia ter comportamento de direita. Hoje não, assisto gente afirmando com orgulho posições que a mim assustam e causam asco.

Sábado à noite, fui ao delicioso show “Beatles in concert” no Palácio das Artes. O Grande Teatro lotado vibrou com um dos mais belos espetáculos que já vi.

Ageu, comandando o palco, ao lado de seus parceiros instrumentais e de interpretação daquela banda, tinha ainda a companhia de um coral e orquestra sinfônica.

Um show, na mais pura acepção do termo. Vale lembrar que o presidente nomeado para a Funarte afirmou que a banda de Liverpool era formada por comunistas.

Pois, num determinado momento, quando um deles interpretava uma canção e se atreveu a fazer o gesto de Lennon Lives (Lennon Vive), alguém da plateia protestou.

O sujeito não teve discernimento para entender e interpretar o que se passa no mundo. Ficou um silêncio ensurdecedor pelo (des)entendimento da intenção do rigoroso censor. Minutos depois, foi a vez de outro aparecido se exaltar, dai a platéia reagiu com uma sonora vaia.

No dia seguinte, noutro evento, e neste eu não estava presente (jogo no Mineirão que não era do meu time), a partida nem pode ser encerrada.

O resultado adverso provocou reação de torcedores inflamados que deixaram um saldo terrível de prejuízo ao estádio da Pampulha.

E os grandes responsáveis por toda essa situação, sejam nos gabinetes e até mesmo nos confortáveis salões da grande imprensa, assistem como se nada tivessem com esse monstro que criaram.

Estão todos eles, seja em qualquer dos três poderes ou disputando audiência numa programação horrorosa de televisão, em amplas salas com ar condicionado, enquanto o povo gado briga do lado de fora.

*imagens; 1) extraída da rede social; 2) foto UAI/EM

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