Geralmente, em todo os lugares em que vou, tenho a impressão que as pessoas que imaginaram aquele lugar – se é que imaginaram – colocaram as maçanetas altas demais.
Não sei o que eles estavam pensando ou quem estavam esperando, mas – certamente – não era eu.
Por esse motivo, sempre ando com os meus braços com roxos – as vezes, quando estou com pressa, saio batendo em todas as maçanetas, e elas deixam sua marca por onde conseguem tocar.
Mas esse sacrilégio não se resume apenas a portas e entradas. Alguém, pelo amor de – insira aqui qualquer entidade que você acredite ter um amor incondicional – poderia me dizer por que de colocar os pratos em lugares tão altos?
Vocês tem medo de que, se colocaram eles um pouco mais perto do chão, eles podem pular para fora do armário ou alguma coisa do tipo?
Eu realmente não entendo a função de armários que habitam acima das nossas cabeças.
Se a até os montadores utilizam escadas para colocá-los lá, eu, no meu dia-a-dia, fico observando louças inalcançáveis e empoeiradas. Um suplício.
Tudo isso, que não é só drama de uma pessoa que precisa pedir ajuda para pegar uma coisa na prateleira alta do supermercado – o que já aconteceu e não é engraçado -, me faz pensar em para quem o mundo, essa grande massa azul de pessoas de terno e apressadas, foi pensando.
Com certeza, não para mim, ou pera outros milhares de brasileiras e brasileiros de baixa estatura.
Também não foi pensando para pessoas com algum tipo de deficiência, ou com qualquer forma de dificuldade de locomoção.
O que não seria novidade. Portas altas, armários que flutuam, prateleiras que se passam pela Grande Muralha da China, calçadas que parecem que sobreviveram a Segunda Guerra Mundial – tudo isso estava aqui antes mesmo das outras pessoas serem notadas, e continuam se impondo sobre elas como se fosse uma provocação.
Uma provocação aceita. Quem pensava o mundo, até pouco tempo, eram aqueles que não viam dificuldades em estar nele e não encontravam muita resistência para tal.
Mas hoje, com o avanço de – quase – tudo, especialmente nossa capacidade de imposição, o mundo pode – e precisa, urgentemente – ser mudado.
Incluir não é tornar a terra um lugar habitável para uma parcela da população e achar que está tudo bem.
Incluir é deixar cada parcela decidir quando o mundo está habitável para ela, e ter certeza que todos poderão aproveitar, da melhor e menos dolorosa forma possível, essa estadia curtíssima no terceiro planeta do Sistema Solar.
Por isso, estou fazendo uma petição. Se concorda, por favor, deixe a sua assinatura.
CONTRA MAÇANETAS ALTAS – NÃO VAMOS IMPEDIR QUE PESSOAS ENTREM E SAIAM DE ONDE ELAS QUISEREM.
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