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Patinete eletrizante

Foto: Public Domain The Retronaut / https://www.treehugger.com/bikes/autoped-was-worlds-first-scooter.html
Taís Civitarese

Outro dia, fui ao trabalho de patinete elétrico. Foi um percurso de quase dois quilômetros, entre a Savassi e a região hospitalar, o qual usualmente era feito de táxi. Resolvi me arriscar na novidade, sem me esquecer, naturalmente, de um enorme capacete, sob o pretexto de cometer um ato semi-rebelde depois de velha.

A motivação do dia foi exatamente essa: ter uma experiência diferente. Com o orgulhoso adendo mental politicamente correto de evitar mais um carro na rua.

Mas o sabor mesmo veio do fator ousadia (pois quase choquei toda a sociedade mineira!), ao ouvir remotamente a voz de papai me dizendo aos 16 anos: é perigoso! E, para provocar um pouco mais a mim mesma, ainda fui de salto.

Para quem sempre viveu uma vida mais recatada, estudou em colégio de freis e se dedicou a passar no vestibular como meta maior da adolescência, esse ato beirando os 40 é quase como uma expedição de aventura. Sair da zona de conforto é especialmente difícil para um nerd (os que são corajosos que me perdoem…). Enfim, foi para mim. Por isso, me achei bem moderna e “diferentona” sobre aquele curioso apetrecho.

Exercício, a gente não faz no patinete, pois ele é elétrico. Talvez um pequeno esforço para carregá-lo quando há degraus na calçada. Ou para arrastá-lo ao atravessar a rua (pois obviamente – para mim -, fiz a maior parte do percurso no passeio). Então, no quesito saúde, todo o mérito se deu em não poluir o ar, mesmo.

No entanto, tive uma pequena surpresa nessa jornada. Algo aconteceu de mais lindo e legal no caminho.

Ao acelerar a geringonça, foi possível experimentar a cidade de um jeito diferente. Ando bastante à pé, e sempre com medo. No patinete, me senti livre. Senti a cidade ainda mais perto. Parecia mais real e bonita. Não tinha a película vitrificada do carro para me isolar em um bolhoso universo refrigerado. E também, sem estar à pé, não me senti tão vulnerável. O patinete (ou seria a patinete?) parecia ter asas.

Conferia velocidade, diversão, ao mesmo tempo em que tornava tudo tão mais palpável. As coisas belas e feias. As ruas, as pessoas, os prédios, as praças, tudo parecia maior e mais próximo. E até as coisas feias, experimentadas, tinham certa beleza por estarem ali e desempenharem seu urbano papel nessa nova realidade. Realidade que vivo há 38 anos e que nunca tinha visto dessa maneira.

Cada lombada percorrida era sentida no corpo, cada pé de vento batia na face, os ruídos vinham altos nos ouvidos. E, apesar do calor do dia, nem cheguei suada. Talvez a sensação seja parecida ao andar de bicicleta nas ruas. Não sei… Mas esse patinete mágico me fez gostar ainda mais da cidade. Me fez, adulta, sentir-me mais belorizontina. Tornou-nos a mim e BH mais amigas. E não poluir seu ar foi meu pequeno presente da viagem.

Voltei para casa na hora do rush e cheguei em 8 minutos. Não é que essa geração Y tem mesmo boas ideias?

Tais Civitarese

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